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CLÓVIS ROSSI
Não é Vietnã, é pior
SÃO PAULO - A partir do atentado de
ontem contra o Canal Hotel, QG das
Nações Unidas em Bagdá, fica mais
tentador supor que os Estados Unidos (e o Ocidente) meteram-se em
um novo Vietnã, ao invadir e ocupar
o Iraque.
Tentador, sim, mas falso também.
Não há parentesco entre uma e outra
situação. De alguma forma, dá até
para dizer que o Vietnã era melhor
para os norte-americanos.
Lá, havia exércitos definidos, ainda
que um deles não fosse um exército
regular, e, sim, guerrilheiro. Havia
um campo de batalha relativamente
delineado e um objetivo claro e clássico (conquista de território ou manutenção dele).
Não é o caso do Iraque. Um só dos
exércitos está definido e funciona,
agora, como alvo móvel, depois de ter
dominado com imensa facilidade o
outro exército presente no terreno. O
campo de batalha estende-se de Bagdá a Bali, na Indonésia, passa por
Nova York e Washington e sabe Deus
por onde mais.
O objetivo só é conhecido dos terroristas. Não há a menor chance de, por
meio de atentados como os que se
vêm repetindo desde o fim formal da
Guerra do Iraque, derrotar os Estados Unidos e forçá-los a abandonar
precipitadamente Bagdá, como o fizeram com a antiga Saigon.
Ainda que houvesse, não parece
existir uma força organizada capaz
de ocupar o território todo ou todas
as alavancas de poder.
Nem mesmo o terrorismo é do tipo
conhecido. Terrorista adora assinar
suas sinistras obras. Propaganda, afinal, é parte da guerra. O terrorismo
de hoje é anônimo. Nem sequer o
maior conjunto de atentados da história, o de 11 de setembro, levou assinatura. Quem definiu a autoria foi a
vítima, não o criminoso.
A Al Qaeda só existe pela descrição
dos que a combatem, jamais por ela
própria, ao contrário, por exemplo,
de terroristas convencionais como o
ETA espanhol ou os grupos extremistas palestinos.
É ou não mais assustador?
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