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São Paulo, quarta-feira, 20 de agosto de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Não é Vietnã, é pior

SÃO PAULO - A partir do atentado de ontem contra o Canal Hotel, QG das Nações Unidas em Bagdá, fica mais tentador supor que os Estados Unidos (e o Ocidente) meteram-se em um novo Vietnã, ao invadir e ocupar o Iraque.
Tentador, sim, mas falso também. Não há parentesco entre uma e outra situação. De alguma forma, dá até para dizer que o Vietnã era melhor para os norte-americanos.
Lá, havia exércitos definidos, ainda que um deles não fosse um exército regular, e, sim, guerrilheiro. Havia um campo de batalha relativamente delineado e um objetivo claro e clássico (conquista de território ou manutenção dele).
Não é o caso do Iraque. Um só dos exércitos está definido e funciona, agora, como alvo móvel, depois de ter dominado com imensa facilidade o outro exército presente no terreno. O campo de batalha estende-se de Bagdá a Bali, na Indonésia, passa por Nova York e Washington e sabe Deus por onde mais.
O objetivo só é conhecido dos terroristas. Não há a menor chance de, por meio de atentados como os que se vêm repetindo desde o fim formal da Guerra do Iraque, derrotar os Estados Unidos e forçá-los a abandonar precipitadamente Bagdá, como o fizeram com a antiga Saigon.
Ainda que houvesse, não parece existir uma força organizada capaz de ocupar o território todo ou todas as alavancas de poder.
Nem mesmo o terrorismo é do tipo conhecido. Terrorista adora assinar suas sinistras obras. Propaganda, afinal, é parte da guerra. O terrorismo de hoje é anônimo. Nem sequer o maior conjunto de atentados da história, o de 11 de setembro, levou assinatura. Quem definiu a autoria foi a vítima, não o criminoso.
A Al Qaeda só existe pela descrição dos que a combatem, jamais por ela própria, ao contrário, por exemplo, de terroristas convencionais como o ETA espanhol ou os grupos extremistas palestinos.
É ou não mais assustador?


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