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FERNANDO RODRIGUES
Troca de roupa
BRASÍLIA - Parecia o anúncio de um
craque de futebol e não a filiação de
um político a cerimônia oficial de entrada de Anthony Garotinho ontem
no PMDB. Dezenas e dezenas de pessoas se acotovelavam para abraçar o
cristão-novo peemedebista.
Na sessão de empurra-empurra na
Câmara, chamou a atenção uma das
frases de Garotinho: "Mudar de partido não significa mudar de lado".
Essa assertiva foi precedida de outra,
sobre a falta de predicados no sistema político-partidário brasileiro. É o
tipo de opinião que diz muito sobre o
PMDB e Garotinho.
Do PMDB, o lugar-comum mais
ouvido é que foi o bastião da defesa
da democracia durante do regime
militar (1964-1985). Uma bobagem
repetida mil vezes quase se torna verdade. Esse é um caso. O MDB era o
partido de oposição consentida (sic).
Tivessem mais políticos se recusado a
fazer parte da farsa, talvez menos
tempo tivesse durado aquele sistema
nefando -apoiado à época pelo arenista José Sarney, hoje ironicamente
um dos líderes do PMDB.
No caso de Garotinho, comporta-se
como um político recém-saído da telenovela Kubanacan. Sua mulher,
Rosinha, assemelhava-se ontem a
um totem indígena mudo seguindo o
marido falante. É impossível precisar
a ideologia de ambos.
O axioma de Garotinho sobre mudar de sigla é um desafio à lógica,
mas tem um significado certo: atacará o governo quando puder. Vai prestar um serviço ao PMDB. A sigla seguirá espetando a faca na barriga de
Lula, pedindo mais "participação na
administração federal" -o atual eufemismo para fisiologia.
O ambiente ontem na filiação dos
Garotinhos estava quente. O ar-condicionado da Câmara não funcionava bem. Muita gente de terno e gravata suava em bicas.
Ao final, feliz da vida por trazer
mais oposicionistas ao PMDB, o presidente da sigla no Rio, deputado
Moreira Franco, foi indagado por um
presente: "Para onde você vai?". Empapado de suor, respondeu: "Eu vou
é trocar de roupa". É, faz sentido.
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