UOL




São Paulo, quarta-feira, 20 de agosto de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FERNANDO RODRIGUES

Troca de roupa

BRASÍLIA - Parecia o anúncio de um craque de futebol e não a filiação de um político a cerimônia oficial de entrada de Anthony Garotinho ontem no PMDB. Dezenas e dezenas de pessoas se acotovelavam para abraçar o cristão-novo peemedebista.
Na sessão de empurra-empurra na Câmara, chamou a atenção uma das frases de Garotinho: "Mudar de partido não significa mudar de lado". Essa assertiva foi precedida de outra, sobre a falta de predicados no sistema político-partidário brasileiro. É o tipo de opinião que diz muito sobre o PMDB e Garotinho.
Do PMDB, o lugar-comum mais ouvido é que foi o bastião da defesa da democracia durante do regime militar (1964-1985). Uma bobagem repetida mil vezes quase se torna verdade. Esse é um caso. O MDB era o partido de oposição consentida (sic). Tivessem mais políticos se recusado a fazer parte da farsa, talvez menos tempo tivesse durado aquele sistema nefando -apoiado à época pelo arenista José Sarney, hoje ironicamente um dos líderes do PMDB.
No caso de Garotinho, comporta-se como um político recém-saído da telenovela Kubanacan. Sua mulher, Rosinha, assemelhava-se ontem a um totem indígena mudo seguindo o marido falante. É impossível precisar a ideologia de ambos.
O axioma de Garotinho sobre mudar de sigla é um desafio à lógica, mas tem um significado certo: atacará o governo quando puder. Vai prestar um serviço ao PMDB. A sigla seguirá espetando a faca na barriga de Lula, pedindo mais "participação na administração federal" -o atual eufemismo para fisiologia.
O ambiente ontem na filiação dos Garotinhos estava quente. O ar-condicionado da Câmara não funcionava bem. Muita gente de terno e gravata suava em bicas.
Ao final, feliz da vida por trazer mais oposicionistas ao PMDB, o presidente da sigla no Rio, deputado Moreira Franco, foi indagado por um presente: "Para onde você vai?". Empapado de suor, respondeu: "Eu vou é trocar de roupa". É, faz sentido.


Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: Não é Vietnã, é pior
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Água benta
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.