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CARLOS HEITOR CONY
Água benta
RIO DE JANEIRO - Deve haver alguma coisa de errado com o atual governo, apesar do crédito que a nação
lhe deu e que os oito meses de poder
ainda não revogaram -se é que as
pesquisas de opinião são honestas.
O que está evidente, além dos índices negativos que aparecem em vários setores, é a necessidade que Lula
tem de, a cada pronunciamento, revelar que as coisas não andam bem
para o seu lado. Ele não diz isso explicitamente, mas seus desabafos denunciam o descontentamento de sua
própria equipe e de suas bases administrativas e ideológicas.
Dotado de bom humor -o que é
excelente para ele e para nós-, com
uma linguagem própria, com metáforas fora do padrão habitual na política brasileira, nem assim ele esconde o desconforto das crises que enfrenta e começam a bagunçar o seu
coreto.
Semana passada, por exemplo, ele
declarou que um de seus ministros é
intocável, perde quem apostar contra
os critérios, as prioridades e o estilo
de um de seus auxiliares mais importantes. O recado é transparente, não
foi dado à oposição, muito menos ao
povo em geral, que não conspira nem
planta informações nas colunas especializadas em política e economia.
Criticaram o presidente quando,
não faz muito tempo, apelou para
Deus, colocando-se a serviço da providência divina, contra a qual as portas do inferno não prevalecerão. Ninguém é contra um pouco de água
benta, a não ser o próprio Demônio,
que não é chegado a esse tipo de devoção.
Transformar um de seus ministros,
seja qual for, numa entidade transcendental, metafísica, contra a qual
não adianta dar murro, é sinal de
que Lula começa a baixar a bola, entrando na real. Houve um presidente
que, quando se falava em substituir
ministros, dizia que o governo não tinha compromisso com o erro.
Não estou insinuando que o ministro da Fazenda está errado. Mas seria bom jogar em cima dele um pouco de água benta para ver o que
acontece.
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