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São Paulo, quarta-feira, 20 de agosto de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

Água benta

RIO DE JANEIRO - Deve haver alguma coisa de errado com o atual governo, apesar do crédito que a nação lhe deu e que os oito meses de poder ainda não revogaram -se é que as pesquisas de opinião são honestas.
O que está evidente, além dos índices negativos que aparecem em vários setores, é a necessidade que Lula tem de, a cada pronunciamento, revelar que as coisas não andam bem para o seu lado. Ele não diz isso explicitamente, mas seus desabafos denunciam o descontentamento de sua própria equipe e de suas bases administrativas e ideológicas.
Dotado de bom humor -o que é excelente para ele e para nós-, com uma linguagem própria, com metáforas fora do padrão habitual na política brasileira, nem assim ele esconde o desconforto das crises que enfrenta e começam a bagunçar o seu coreto.
Semana passada, por exemplo, ele declarou que um de seus ministros é intocável, perde quem apostar contra os critérios, as prioridades e o estilo de um de seus auxiliares mais importantes. O recado é transparente, não foi dado à oposição, muito menos ao povo em geral, que não conspira nem planta informações nas colunas especializadas em política e economia.
Criticaram o presidente quando, não faz muito tempo, apelou para Deus, colocando-se a serviço da providência divina, contra a qual as portas do inferno não prevalecerão. Ninguém é contra um pouco de água benta, a não ser o próprio Demônio, que não é chegado a esse tipo de devoção.
Transformar um de seus ministros, seja qual for, numa entidade transcendental, metafísica, contra a qual não adianta dar murro, é sinal de que Lula começa a baixar a bola, entrando na real. Houve um presidente que, quando se falava em substituir ministros, dizia que o governo não tinha compromisso com o erro.
Não estou insinuando que o ministro da Fazenda está errado. Mas seria bom jogar em cima dele um pouco de água benta para ver o que acontece.


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