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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Lula, o Pom-Pom e o cansaço
SÃO PAULO - A política brasileira
no segundo mandato acomodou-se
em dois pólos, mais complementares do que antagônicos. O primeiro
é o PL -ou Partido do Lula, em que
coabitam, acotovelando-se, 11 partidos, unidos pela causa comum da
fisiologia, além do que restou de
movimentos sociais e sindicalismo.
O outro pólo é o do Partido da
Oposição Mais ou Menos, que podemos batizar de Pom-Pom, mais
sugestivo. O Pom-Pom abriga basicamente o que o moinho do PL não
tragou: os tucanos, que lhe definem
o caráter equívoco (nem isso nem
aquilo), e os Democratas, que vêm a
reboque, mais estridentes, sem força própria para se desgarrar.
Entre o PL e o Pom-Pom há mais
conveniências e pontos em comum
do que divergências de fundo. Se a
economia internacional deixar,
irão todos nessa toada cordial e cautelosa até as eleições de 2008.
Vive-se no país uma situação de
convergência no marasmo, em que
os conflitos sociais parecem ter sido
anestesiados por Lula, o gestor insuperável da miséria. O Pom-Pom
não sabe o que propor de diferente.
A despeito disso, à margem dos
partidos há uma novidade política
regressiva em curso. O "Cansei"
traduz uma insatisfação difusa contra o governo -ou será contra a figura do presidente, nordestino, de
origem pobre, pouco letrado?
Trata-se de um movimento de direita tosco e provinciano, liderado
por uma espécie de lúmpen da elite
paulistana. João Dória Jr. inventou
para si um intermezzo "cívico", entre a temporada de verão, quando
funciona como camelô da mercadoria alheia em resorts na Bahia, e a de
inverno, quando promove concursos de cachorro de madame em
Campos do Jordão.
Em um mês, o "Cansei" fez saudações ao Exército, patrocinou patriotadas, mobilizou a ira dos pequenos proprietários, produziu
uma gafe sintomática de preconceito contra o Piauí e invocou até o Todo-Poderoso: "Deus está cansado",
disse o padre das celebridades. O
que a "Caras" está esperando?
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