|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
A rendição
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - Tenho perguntado aos
(poucos) empresários com os quais
eventualmente cruzo em quem votarão. A resposta é óbvia: em FHC.
O que surpreende são os acréscimos,
ou na base de "apesar de tudo" ou na
forma da pergunta: "E tem outro?".
Não chega a ser entusiasmante para
um governo que fez, claramente, a opção pelo mercado, que os empresários
dizem adorar, ao menos da boca para
fora. Entre os não-empresários, até
mesmo entre alguns "tucanos", o entusiasmo não é maior.
Parece evidente que, se as urnas confirmarem as pesquisas mais recentes,
FHC ganha não por uma adesão entusiasmada à sua candidatura, mas por
uma espécie de rendição a uma nova
versão do "ruim com ele, pior sem ele".
Do outro lado da cerca, no PT, o ânimo da militância, que já caíra muito
em 94, na comparação com 89, entrou
agora em ritmo de Bolsa asiática:
aponta quase sempre para baixo.
Tudo somado, tem-se um estado de
catalepsia do eleitorado para o que
contribui o fato de que o grande ativo
eleitoral do presidente, a inflação baixa, é um fenômeno que perdeu o jeito
de novidade.
Basta fazer a pergunta clássica que,
em geral, determina o voto quando
um dos candidatos é também o governante de turno: você vive melhor hoje
do que há quatro anos?
Suspeito que a maioria responderá
um anódino "estou na mesma". Afinal, a queda da inflação, que de fato
melhorou a vida de muita gente, já
havia ocorrido quando da eleição anterior. Mas o pessoal aprendeu que a
estabilidade é condição necessária,
mas insuficiente, para promover efetiva melhoria nas condições de vida,
ante o acúmulo de déficits do país, o
interno e o externo, o social e o do Estado, incapaz de oferecer serviços de
qualidade pelo menos razoável.
Como tudo indica que um eventual
novo mandato de FHC será apenas
"más de lo mismo", como gostam de
dizer os argentinos, a pátria amada
vai levando sua vidinha, medíocre até
no período eleitoral.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|