São Paulo, quinta, 20 de agosto de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A rendição

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Tenho perguntado aos (poucos) empresários com os quais eventualmente cruzo em quem votarão. A resposta é óbvia: em FHC.
O que surpreende são os acréscimos, ou na base de "apesar de tudo" ou na forma da pergunta: "E tem outro?".
Não chega a ser entusiasmante para um governo que fez, claramente, a opção pelo mercado, que os empresários dizem adorar, ao menos da boca para fora. Entre os não-empresários, até mesmo entre alguns "tucanos", o entusiasmo não é maior.
Parece evidente que, se as urnas confirmarem as pesquisas mais recentes, FHC ganha não por uma adesão entusiasmada à sua candidatura, mas por uma espécie de rendição a uma nova versão do "ruim com ele, pior sem ele".
Do outro lado da cerca, no PT, o ânimo da militância, que já caíra muito em 94, na comparação com 89, entrou agora em ritmo de Bolsa asiática: aponta quase sempre para baixo.
Tudo somado, tem-se um estado de catalepsia do eleitorado para o que contribui o fato de que o grande ativo eleitoral do presidente, a inflação baixa, é um fenômeno que perdeu o jeito de novidade.
Basta fazer a pergunta clássica que, em geral, determina o voto quando um dos candidatos é também o governante de turno: você vive melhor hoje do que há quatro anos?
Suspeito que a maioria responderá um anódino "estou na mesma". Afinal, a queda da inflação, que de fato melhorou a vida de muita gente, já havia ocorrido quando da eleição anterior. Mas o pessoal aprendeu que a estabilidade é condição necessária, mas insuficiente, para promover efetiva melhoria nas condições de vida, ante o acúmulo de déficits do país, o interno e o externo, o social e o do Estado, incapaz de oferecer serviços de qualidade pelo menos razoável.
Como tudo indica que um eventual novo mandato de FHC será apenas "más de lo mismo", como gostam de dizer os argentinos, a pátria amada vai levando sua vidinha, medíocre até no período eleitoral.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.