São Paulo, quinta, 20 de agosto de 1998

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O carro de Lula

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Já foi observado, por alguns entendidos em coisas da política eleitoral, que Lula está ficando cada vez mais parecido com FHC. Gostaria de não concordar com isso, acho até que esse é um dado fundamental para explicar a liderança do candidato oficial nas pesquisas. Falta um anti-FHC -falta o poste que, segundo Delfim Netto, seria eleito facilmente.
Durante a campanha passada, estranhou-se o preço de um sítio que FHC teria comprado. Nada de mais que um político profissional encontre compradores e vendedores camaradas. Elvis Presley, até mesmo depois de morto, ainda encontra quem compre um par de suas abotoaduras por US$ 50 mil.
Não tenho certeza se o próprio Lula estranhou ou não a transação (não a do Elvis, mas a do FHC). O caso só não inchou porque uma das táticas do atual esquema de poder é deixar as coisas serem esquecidas. O maníaco do parque fez esquecer a filha da Xuxa, a qual fez esquecer o assassinato da jovem Ana Carolina, assassinato que fez esquecer o desabamento do edifício na Barra -e assim por diante. O crime de Caim, que matou o inocente Abel, só não foi esquecido porque a Bíblia ainda é o livro mais lido do mundo.
Felizmente, até a eleição, todos terão esquecido o caso de Lula. Não será por causa disso que ele perderá. Sua honestidade pessoal é um consenso, um patrimônio dele e dos trabalhadores brasileiros. O diabo é que sua campanha está chocha, a começar por ele. Falta empolgação.
Lembro a final da Copa do Mundo. Antes mesmo de Ronaldinho ter amarelado, estava no ar a vitória, a empolgação dos franceses. E a nossa tibieza. Entramos em campo para manter um conceito (o melhor futebol do mundo), e não para vencer uma partida.
O mesmo está acontecendo com Lula. No meu entender, ele ainda é o melhor candidato. Mesmo assim, gostaria de saber como se compra um carro como o dele por 40 mil paus.



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