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São Paulo, sábado, 20 de setembro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Sigamos a ordem do FMI

SÃO PAULO - Do economista-chefe do Fundo Monetário Internacional, Kenneth Rogoff, sobre o Brasil:
"A dívida doméstica é grande. A dívida externa é muito alta. Esses problemas não desaparecem da noite para o dia e continuarão absorvendo uma parcela do crescimento nos próximos anos. É preciso ter um crescimento sustentável para diminuí-los em relação ao PIB, a menos que o país adote medidas mais radicais".
Tradução, a única possível: bugrada, dê o calote o quanto antes, sob pena de passar o resto dos séculos trabalhando apenas para pagar as dívidas interna e externa.
Bem-vindo ao clube, Rogoff. Faz tempo que muita gente boa vem insistindo em que o Brasil só poderia ter crescimento de fato sustentado no momento em que encarasse o fato de que suas dívidas não podem ser pagas nos termos gostosamente aceitos pelos sucessivos governos dos últimos muitos anos.
Cada vez que se tocava no ponto, no entanto, o coro dos "cabeças de planilha", como os batizou com imensa felicidade o colunista Luís Nassif, entrava em apoplexia.
Dizia que qualquer ameaça de calote, para não falar de calote propriamente, levaria o Brasil para o mais escuro dos infernos.
Adiantava dizer que a Rússia deu calote e sua situação só fez melhorar depois dele?
Adiantava mostrar que a Argentina deu calote e está hoje melhor do que estava antes da moratória?
Para esse tipo de economistas, vale a tese do sábio José Mindlin, mais de uma vez aqui citada, segundo a qual "contra argumentos não há fatos".
Agora há um argumento imbatível, apresentado pelo antigo menino-Deus da ortodoxia, o FMI: ou o Brasil acaba com a dívida ou a dívida acaba com o Brasil.
É com alegria que, desta vez, sou obrigado a dizer: obedeçamos ao Fundo enquanto é tempo.


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