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CLÓVIS ROSSI
Sigamos a ordem do FMI
SÃO PAULO - Do economista-chefe do Fundo Monetário Internacional,
Kenneth Rogoff, sobre o Brasil:
"A dívida doméstica é grande. A dívida externa é muito alta. Esses problemas não desaparecem da noite
para o dia e continuarão absorvendo
uma parcela do crescimento nos próximos anos. É preciso ter um crescimento sustentável para diminuí-los
em relação ao PIB, a menos que o
país adote medidas mais radicais".
Tradução, a única possível: bugrada, dê o calote o quanto antes, sob pena de passar o resto dos séculos trabalhando apenas para pagar as dívidas interna e externa.
Bem-vindo ao clube, Rogoff. Faz
tempo que muita gente boa vem insistindo em que o Brasil só poderia
ter crescimento de fato sustentado no
momento em que encarasse o fato de
que suas dívidas não podem ser pagas nos termos gostosamente aceitos
pelos sucessivos governos dos últimos
muitos anos.
Cada vez que se tocava no ponto,
no entanto, o coro dos "cabeças de
planilha", como os batizou com
imensa felicidade o colunista Luís
Nassif, entrava em apoplexia.
Dizia que qualquer ameaça de calote, para não falar de calote propriamente, levaria o Brasil para o mais
escuro dos infernos.
Adiantava dizer que a Rússia deu
calote e sua situação só fez melhorar
depois dele?
Adiantava mostrar que a Argentina deu calote e está hoje melhor do
que estava antes da moratória?
Para esse tipo de economistas, vale
a tese do sábio José Mindlin, mais de
uma vez aqui citada, segundo a qual
"contra argumentos não há fatos".
Agora há um argumento imbatível,
apresentado pelo antigo menino-Deus da ortodoxia, o FMI: ou o Brasil
acaba com a dívida ou a dívida acaba com o Brasil.
É com alegria que, desta vez, sou
obrigado a dizer: obedeçamos ao
Fundo enquanto é tempo.
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