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A onda de sequestros
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - Depois de uma trégua, o Rio voltou a ser a capital dos
sequestros. No momento, são 11 as pessoas em cativeiro forçado. É a segunda
maior taxa nesse setor da criminalidade, desde 1995. Na semana que passou, duas moças foram capturadas
mais ou menos nas mesmas circunstâncias.
O caso de uma delas, Sônia Machado, sócia da editora Record (filha de
Alfredo Machado e irmã de Sérgio),
dará péssimo retorno ao Brasil e, em
especial, ao Rio. No momento em que
se realiza a Feira de Livros de Frankfurt, quando estão reunidos editores,
livreiros, autores e jornalistas de todo
o mundo, um acontecimento desses
provoca profundo desgaste na imagem
do país, além da natural revolta
-afinal, Sérgio é presidente do Sindicato de Editores do Brasil e sua editora é das que movimentam maior número de títulos nas feiras internacionais.
O governador Marcello Alencar explica que a onda de sequestros cresceu
por causa da repressão ao tráfico de
drogas. Não é visível esse combate. A
droga e o seu comércio são uma constante, uma invariável na paisagem
carioca. Há uma estrutura pífia de repressão, bichada pela corrupção da
própria polícia e pela insensibilidade
da população que reclama dos tiroteios, das balas perdidas e se comove
com os sequestros.
No fundo no fundo, até que a sociedade considera natural o consumo da
droga. Consome com perversa curiosidade os casos mais notórios de overdose que infelicitam ou matam os dependentes (as crises de Vera Fischer
são as de maior visibilidade no momento). O tráfico não precisa dos sequestros para assustar ninguém.
Cada coisa em seu lugar. O tráfico
de droga existirá enquanto houver
consumo. Será sempre o mesmo e provocará o banditismo de sempre. Já a
indústria do sequestro tem fluxos e refluxos.
Do mesmo modo que o aparelho policial fracassa no combate ao tráfico,
fracassa também na defesa global da
sociedade.
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