São Paulo, sábado, 20 de outubro de 2007

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CLÓVIS ROSSI

O país da propina

SÃO PAULO - Informa a BBC-Brasil: "Quase metade das empresas que atuam no Brasil [exatamente 48% delas] já se viu diante de uma situação em que foi estimulada a pagar propina, revelou um estudo da consultoria PriceWaterhouseCoopers".
Comparações terríveis: a média na África, celebrizada por ditadores tão cruéis como corruptos, é de apenas 30%. Mesmo no México, o país conhecido pela "mordida", a maneira como os mexicanos se referem à propina, instituição nacional, o número de empresas estimuladas à "mordida" é de apenas 28%.
Nem vale a pena comparar com América do Norte (3%) ou Europa Ocidental (9%).
A pesquisa foi feita com 5,4 mil executivos de 40 países. O Brasil ganha, se é que dá para usar esse verbo, apenas da Indonésia (54%). Empata com a Rússia, que se celebrizou, depois da queda do comunismo, pela maneira como enriqueceram ex-quadros do Partido Comunista da União Soviética, beneficiados, digamos assim, no processo de privatização.
Pode ser que os executivos de outros países estejam mentindo. Ou que os executivos brasileiros consultados estejam exagerando para justificar ante a matriz estrangeira, quando for o caso, o fato de que 45% das empresas que disseram não ter pago propina em determinada situação afirmaram ter perdido a oportunidade para concorrentes mais, digamos, flexíveis.
Mas, depois de todos os escândalos que ocupam o que deveriam ser as páginas políticas dos jornais, você se animaria a dizer que não acredita no teor de corrupção inerente aos negócios no Brasil?
Claro que os aloprados e debilóides sempre podem dizer que é tudo invenção da "elite", amplificada pela "mídia golpista". É a maneira canalha que encontram para fugir da verdadeira conspiração, que é a conspiração dos fatos. Mas os fatos teimam em conspirar.


crossi@uol.com.br

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