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MELCHIADES FILHO
A delicadeza do suflê
BRASÍLIA - A imposição de regras
duras para coibir o troca-troca colocou o Partido da República na
berlinda. O deputado federal Luciano Castro não sai dos telejornais,
transformado em garoto-propaganda da infidelidade. Apanha em
nome de todos. "Bem feito", alguém
dirá. Quem manda liderar o partido
que mais atraiu políticos vira-casacas no segundo mandato?
Não que a sova seja imerecida. Os
quadros do PR não se destacam pela vocação programática. Zanzam
em torno do que se convencionou
chamar de "balcão" no Congresso.
Mas os clichês do toma-lá-dá-cá
federal nem de longe explicam o sucesso galopante da agremiação.
Basta notar que seus parlamentares não encabeçam o ranking das
emendas liberadas pelo Executivo.
Ou que o partido manteve só um
ministério -o mesmo do governo
Lula 1 (Transportes). Ou que seu lote de cargos não avançou além do
segundo escalão do setor (DNIT).
Na verdade, o PR descolou-se dos
assemelhados PTB, PRB e PP, tornando-se o principal refúgio dos
adesistas, devido a uma avaliação
mais realista do quadro partidário.
Percebeu que políticos de pouca
expressão, ou de expressão circunscrita a redutos pequenos, andavam
insatisfeitos com as regras e pedágios estabelecidos pelos caciques de
suas siglas de origem.
Devastado pelos escândalos do
mensalão e, sobretudo, dos sanguessugas, o ex-PL-fundido-ao-Prona ousou fazer a esses nanicos a
oferta que outros partidos consideravam absurda: a possibilidade de
controlar, com total autonomia (e o
"amparo" do DNIT), as próprias
alianças e bases de atuação.
De um modo torto e viciado, portanto, o partido-suflê não fez senão
adiantar uma estratégia distrital
-aquela que muita gente de bem
recomenda para (re)aproximar os
eleitores da política.
A onda repentina em favor da fidelidade partidária deve ser vista
também como uma reação a essa
perspectiva de descentralização.
mfilho@folhasp.com.br
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