São Paulo, quarta-feira, 20 de novembro de 2002

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EM BUSCA DO PRETEXTO

A chegada dos primeiros inspetores de armas das Nações Unidas ao Iraque inaugura uma nova fase na crise entre este país e os EUA. Até o momento, o ditador iraquiano, Saddam Hussein, saiu-se bem. Ao sugerir que aceitaria as inspeções da ONU quando o presidente George W. Bush falava em atacar com ou sem o aval da organização, Saddam conseguiu debilitar a retórica mais belicista da Casa Branca.
Para não agir contra o consenso internacional, Bush teve de bater às portas do Conselho de Segurança, pedir uma nova resolução contra o Iraque e negociá-la, em termos mais brandos, até obter sua aprovação.
Ao que tudo indica, Washington aposta que o Iraque não cumprirá a resolução, o que justificaria a operação militar para depor Saddam. Aparentemente, nos cálculos de Bush, em algum momento entre a chegada dos inspetores e a destruição dos arsenais, Bagdá não vai colaborar "totalmente" com a ONU, dando assim o pretexto para a guerra.
É claro que a noção de "cooperação total" é bastante subjetiva. E os EUA já deram indícios de que poderão valer-se dessa subjetividade quando denunciaram como "provável violação" o disparo de baterias iraquianas contra aviões norte-americanos nas chamadas zonas de exclusão aérea, isto é, duas faixas, uma no sul e outra no norte do Iraque, em que, teoricamente para proteger as populações xiita e curda do país, aeronaves iraquianas não podem operar.
Essas zonas de exclusão, mantidas pelos EUA e pelo Reino Unido, nunca foram explicitamente autorizadas pela ONU, e escaramuças entre forças iraquianas e aviões americanos nessas áreas ocorrem com frequência há anos. Seria ridículo usá-las agora como pretexto para a guerra.
Os EUA são a única superpotência restante do planeta. Acabarão fazendo com o Iraque o que bem entenderem. Mas, se Bush quiser de fato agir com a anuência da comunidade internacional, vai precisar de justificativas melhores para atacar.


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