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EM BUSCA DO PRETEXTO
A chegada dos primeiros inspetores de armas das Nações
Unidas ao Iraque inaugura uma nova
fase na crise entre este país e os EUA.
Até o momento, o ditador iraquiano,
Saddam Hussein, saiu-se bem. Ao
sugerir que aceitaria as inspeções da
ONU quando o presidente George
W. Bush falava em atacar com ou
sem o aval da organização, Saddam
conseguiu debilitar a retórica mais
belicista da Casa Branca.
Para não agir contra o consenso internacional, Bush teve de bater às
portas do Conselho de Segurança,
pedir uma nova resolução contra o
Iraque e negociá-la, em termos mais
brandos, até obter sua aprovação.
Ao que tudo indica, Washington
aposta que o Iraque não cumprirá a
resolução, o que justificaria a operação militar para depor Saddam. Aparentemente, nos cálculos de Bush,
em algum momento entre a chegada
dos inspetores e a destruição dos arsenais, Bagdá não vai colaborar "totalmente" com a ONU, dando assim
o pretexto para a guerra.
É claro que a noção de "cooperação
total" é bastante subjetiva. E os EUA
já deram indícios de que poderão valer-se dessa subjetividade quando denunciaram como "provável violação" o disparo de baterias iraquianas
contra aviões norte-americanos nas
chamadas zonas de exclusão aérea,
isto é, duas faixas, uma no sul e outra
no norte do Iraque, em que, teoricamente para proteger as populações
xiita e curda do país, aeronaves iraquianas não podem operar.
Essas zonas de exclusão, mantidas
pelos EUA e pelo Reino Unido, nunca foram explicitamente autorizadas
pela ONU, e escaramuças entre forças iraquianas e aviões americanos
nessas áreas ocorrem com frequência há anos. Seria ridículo usá-las
agora como pretexto para a guerra.
Os EUA são a única superpotência
restante do planeta. Acabarão fazendo com o Iraque o que bem entenderem. Mas, se Bush quiser de fato agir
com a anuência da comunidade internacional, vai precisar de justificativas melhores para atacar.
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