São Paulo, quarta-feira, 20 de novembro de 2002

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VINICIUS TORRES FREIRE

O PT, amigo do mercado

SÃO PAULO - Quem tem dinheiro grosso no mundo ficou bem escaldado com os calotes da Argentina e de grandes empresas européias e americanas, para não falar da picaretagem da contabilidade nos Estados Unidos e da eleição do até ontem perigoso agitador do mal e esquerdista Luiz Inácio Lula da Silva. Tudo isso parece notícia velha, mas ainda alimenta a aversão a arriscar dinheiro, inclusive no Brasil, como mostrou Márcio Aith na Folha de domingo. O mundo anda mais devagar que os jornais.
Mas os agregados disso que se chama mercado, como o FMI e diretores de pesquisa econômica de bancos em Wall Street, começam a cair de amores pelo PT -ou, pelo menos, pelo governo de Lula da Silva.
Ontem, um porta-voz do FMI saiu encantado de um encontro com o vir-a-ser do Ministério da Fazenda de Lula, que ora atende pelo nome de Antônio Palocci. O porta-voz disse que há afinidades entre o programa econômico do FMI e o do PT. De quebra, os petistas conseguiram empurrar para 2003 a discussão sobre mais cortes de gastos públicos.
Ontem, ainda, soube-se que um grupo de economistas-chefes de bancões americanos passou a acreditar, digamos, que a América Latina vai crescer no ano que vem, conduzida pelo Brasil de Lula e sua política econômica "pró-mercado".
Economistas-chefes não mandam nada, são pesquisadores e porta-vozes de idéias dos bancos, do "mercado". Mas o PT-Lula-Palocci marca mais um ponto no mundo do marketing financeiro, na batalha das expectativas. Interessante notar que alguns desses bancos para quem agora Lula é "market friendly" passaram boa parte deste ano a empestear o ar das finanças nacionais com os miasmas da ameaça de calote e/ou moratória do país ("market friendly" é "pró-mercado", mas não tem o sabor da expressão em inglês, composta com a palavra "amigo").
No fim das contas, ainda não voltamos da breca financeira aonde fomos dar. Mas há um pouco menos de vento contra o barco do país.


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