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VINICIUS TORRES FREIRE
O PT, amigo do mercado
SÃO PAULO - Quem tem dinheiro grosso no mundo ficou bem escaldado com os calotes da Argentina e de
grandes empresas européias e americanas, para não falar da picaretagem
da contabilidade nos Estados Unidos
e da eleição do até ontem perigoso
agitador do mal e esquerdista Luiz
Inácio Lula da Silva. Tudo isso parece notícia velha, mas ainda alimenta
a aversão a arriscar dinheiro, inclusive no Brasil, como mostrou Márcio
Aith na Folha de domingo. O mundo
anda mais devagar que os jornais.
Mas os agregados disso que se chama mercado, como o FMI e diretores
de pesquisa econômica de bancos em
Wall Street, começam a cair de amores pelo PT -ou, pelo menos, pelo
governo de Lula da Silva.
Ontem, um porta-voz do FMI saiu
encantado de um encontro com o vir-a-ser do Ministério da Fazenda de
Lula, que ora atende pelo nome de
Antônio Palocci. O porta-voz disse
que há afinidades entre o programa
econômico do FMI e o do PT. De quebra, os petistas conseguiram empurrar para 2003 a discussão sobre mais
cortes de gastos públicos.
Ontem, ainda, soube-se que um
grupo de economistas-chefes de bancões americanos passou a acreditar,
digamos, que a América Latina vai
crescer no ano que vem, conduzida
pelo Brasil de Lula e sua política econômica "pró-mercado".
Economistas-chefes não mandam
nada, são pesquisadores e porta-vozes de idéias dos bancos, do "mercado". Mas o PT-Lula-Palocci marca
mais um ponto no mundo do marketing financeiro, na batalha das expectativas. Interessante notar que alguns desses bancos para quem agora
Lula é "market friendly" passaram
boa parte deste ano a empestear o ar
das finanças nacionais com os miasmas da ameaça de calote e/ou moratória do país ("market friendly" é
"pró-mercado", mas não tem o sabor
da expressão em inglês, composta
com a palavra "amigo").
No fim das contas, ainda não voltamos da breca financeira aonde fomos
dar. Mas há um pouco menos de vento contra o barco do país.
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