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FERNANDO RODRIGUES
Um trailer
BRASÍLIA - O dólar não cairia nem subiria se o Congresso mudasse a data da posse de Lula. A irrelevância do
tema é de doer. Nos bastidores, a insignificância da discussão não produziu nenhum fervoroso defensor
nem crítico feroz da mudança da cerimônia para o dia 6 de janeiro.
Apesar de todo esse consenso tácito,
a idéia parece sepultada. Esse é apenas um trailer de como será tortuosa
a convivência do PT com o Congresso
no ano que vem.
Os petistas não conseguiram aprovar algo trivial (qual diferença faz
seis dias a mais ou a menos de mandato?), insosso (ninguém no mundo
real se preocupa com isso) e fútil (só
as autoridades políticas ficam de
mau humor por causa da posse em 1º
de janeiro). Imagine o leitor como será quando Lula apresentar uma proposta realmente polêmica.
O exemplo maior dos solavancos a
que o PT será submetido é o comportamento atual de Fernando Henrique Cardoso. Um craque em tomar
atitudes antagônicas, o presidente fala que a transferência da posse seria
uma "violência constitucional". A
Advocacia Geral da União anunciou
que recorreria ao STF se o Congresso
aprovasse a alteração.
Ninguém no Palácio do Planalto
falou em "violência constitucional"
em 1997, quando deputados foram
comprados por R$ 200 mil, em dinheiro, para votar a favor da emenda
da reeleição. Em 1998, beneficiado
pela alteração, FHC foi reeleito.
Para consumo externo, FHC é contrário à mudança da data da posse
para não parecer antidemocrático.
O presidente teria sido a favor da
alteração apenas no início da discussão. Agora, notou impedimentos legais por ter de governar nos primeiros dias de 2003. Mudou de idéia. Como se não fosse possível resolver o
problema com uma canetada.
Só que o beneficiário maior seria
Lula. Nesse caso, para que ajudar? A
posse mantida no dia 1º de janeiro será a primeira derrota petista no Congresso na era Lula.
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