São Paulo, quarta-feira, 20 de novembro de 2002

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FERNANDO RODRIGUES

Um trailer

BRASÍLIA - O dólar não cairia nem subiria se o Congresso mudasse a data da posse de Lula. A irrelevância do tema é de doer. Nos bastidores, a insignificância da discussão não produziu nenhum fervoroso defensor nem crítico feroz da mudança da cerimônia para o dia 6 de janeiro.
Apesar de todo esse consenso tácito, a idéia parece sepultada. Esse é apenas um trailer de como será tortuosa a convivência do PT com o Congresso no ano que vem.
Os petistas não conseguiram aprovar algo trivial (qual diferença faz seis dias a mais ou a menos de mandato?), insosso (ninguém no mundo real se preocupa com isso) e fútil (só as autoridades políticas ficam de mau humor por causa da posse em 1º de janeiro). Imagine o leitor como será quando Lula apresentar uma proposta realmente polêmica.
O exemplo maior dos solavancos a que o PT será submetido é o comportamento atual de Fernando Henrique Cardoso. Um craque em tomar atitudes antagônicas, o presidente fala que a transferência da posse seria uma "violência constitucional". A Advocacia Geral da União anunciou que recorreria ao STF se o Congresso aprovasse a alteração.
Ninguém no Palácio do Planalto falou em "violência constitucional" em 1997, quando deputados foram comprados por R$ 200 mil, em dinheiro, para votar a favor da emenda da reeleição. Em 1998, beneficiado pela alteração, FHC foi reeleito.
Para consumo externo, FHC é contrário à mudança da data da posse para não parecer antidemocrático.
O presidente teria sido a favor da alteração apenas no início da discussão. Agora, notou impedimentos legais por ter de governar nos primeiros dias de 2003. Mudou de idéia. Como se não fosse possível resolver o problema com uma canetada.
Só que o beneficiário maior seria Lula. Nesse caso, para que ajudar? A posse mantida no dia 1º de janeiro será a primeira derrota petista no Congresso na era Lula.


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