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CARLOS HEITOR CONY
Lula e a bola
RIO DE JANEIRO - Recebo quase diariamente e-mails de leitores e editores de jornais universitários com a
mesma pergunta: o senhor considera
honesta a cobertura da imprensa
nesta fase de transição?
Após a primeira pergunta, de ordem geral, aparecem outras que revelam a opinião de cada um dos remetentes. Todos consideram a cobertura
da imprensa viciada, corrompida por
interesses escusos e antinacionais. A
maior parte dos e-mails se queixa da
imprensa que, apesar do tom triunfalista que deu à vitória de Lula, não
engrossa o oba-oba de seus partidários, que consideram todos os problemas já resolvidos com a mera eleição
de um bom candidato.
Outra parte dos e-mails reclama
justamente do contrário. Acha que a
imprensa exagera ao registrar os méritos de Lula, citam o recente caso de
Collor, que ao ser eleito, e antes de tomar posse e confiscar o dinheiro dos
brasileiros, era saudado como um fato novo, tomava banho de piscina na
casa do dr. Roberto Marinho.
Lula não chega a isso. Jogou pelada
na Granja do Torto com o neto, levou
um tombo, parece que machucou o
ombro -é realmente o oposto do político tradicional, que em matéria de
futebol nem sabe como se bate uma
lateral.
Para uns, a imprensa está enchendo a bola de Lula. Para outros, está
enchendo demais. Acontece que, a
bem da verdade, prevalece hoje nos
órgãos da imprensa, sobretudo na
chamada mídia impressa, o pluralismo que antes não existia. Cada jornal tinha o seu candidato, o seu partido, o seu interesse, brigava por eles e
atacava ferozmente os adversários.
Hoje, os jornais mais respeitados do
país, despiram-se da condição de
porta-vozes partidários, abrigam
opiniões até mesmo contrárias à sua
linha editorial.
Muitos leitores ainda não perceberam isso. Cobram do jornal o maniqueísmo que gerou todos os xiitas da
história.
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