São Paulo, quarta-feira, 20 de novembro de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Lula e a bola

RIO DE JANEIRO - Recebo quase diariamente e-mails de leitores e editores de jornais universitários com a mesma pergunta: o senhor considera honesta a cobertura da imprensa nesta fase de transição?
Após a primeira pergunta, de ordem geral, aparecem outras que revelam a opinião de cada um dos remetentes. Todos consideram a cobertura da imprensa viciada, corrompida por interesses escusos e antinacionais. A maior parte dos e-mails se queixa da imprensa que, apesar do tom triunfalista que deu à vitória de Lula, não engrossa o oba-oba de seus partidários, que consideram todos os problemas já resolvidos com a mera eleição de um bom candidato.
Outra parte dos e-mails reclama justamente do contrário. Acha que a imprensa exagera ao registrar os méritos de Lula, citam o recente caso de Collor, que ao ser eleito, e antes de tomar posse e confiscar o dinheiro dos brasileiros, era saudado como um fato novo, tomava banho de piscina na casa do dr. Roberto Marinho.
Lula não chega a isso. Jogou pelada na Granja do Torto com o neto, levou um tombo, parece que machucou o ombro -é realmente o oposto do político tradicional, que em matéria de futebol nem sabe como se bate uma lateral.
Para uns, a imprensa está enchendo a bola de Lula. Para outros, está enchendo demais. Acontece que, a bem da verdade, prevalece hoje nos órgãos da imprensa, sobretudo na chamada mídia impressa, o pluralismo que antes não existia. Cada jornal tinha o seu candidato, o seu partido, o seu interesse, brigava por eles e atacava ferozmente os adversários.
Hoje, os jornais mais respeitados do país, despiram-se da condição de porta-vozes partidários, abrigam opiniões até mesmo contrárias à sua linha editorial.
Muitos leitores ainda não perceberam isso. Cobram do jornal o maniqueísmo que gerou todos os xiitas da história.


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