São Paulo, quinta-feira, 20 de novembro de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Pela promoção da igualdade racial
MATILDE RIBEIRO
Daí por que não é a mesma coisa ser branco pobre e negro pobre no Brasil. A utilização do critério da cor/raça como elemento diferencial na distribuição de direitos e oportunidades faz com que um branco pobre, a começar pela identidade estabelecida com o currículo escolar, tenha muito mais possibilidades de ascensão social que um negro pobre. O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como também o ministro Graziano, tem acentuado frequentemente aquilo que as estatísticas demonstram de modo cabal: ao menos 70% dos pobres são negros. São pobres porque são negros, porque enfrentam uma monumental hostilidade racial no espaço escolar, porque enfrentam práticas discriminatórias no acesso à relação de emprego, porque ingressam mais precocemente no mercado de trabalho, porque são os últimos a serem admitidos e os primeiros a serem demitidos, porque percebem os menores salários e geralmente são empurrados para as funções mais insalubres. A inexistência de ódio racial explícito, de tensão racial patente não impediu que o Brasil criasse um pitoresco modelo de relações raciais: ainda segundo o Ipea, durante o regime do apartheid, a África do Sul registrava, em comparação com o Brasil, um número superior de negros nas universidades e em postos de prestígio da indústria. A resposta a esse quadro só pode ser dada por uma política de Estado, perene, disciplinada por lei, cuja execução co-responsabilize o conjunto do governo e as forças vivas da sociedade, de modo que à secretaria da qual sou titular cumpre valer-se do peso político conferido a um ministério de Estado, responsabilizando-se pela coordenação, articulação e monitoramento da política de promoção da igualdade racial que o presidente da República irá tornar pública neste 20 de novembro. Ao fazê-lo, sem dúvida nenhuma o presidente Lula estará inaugurando uma nova página na história da luta pela liberdade e pela democracia no Brasil, sobretudo se levamos em conta que a questão racial não consubstancia um problema dos e para os negros, mas sim um desafio para a consolidação democrática e o desenvolvimento econômico do nosso país. Nossa esperança é que haverá um dia em que não mais será necessária a adoção de políticas voltadas especificamente para um determinado segmento, étnico-racial, de gênero ou etário. A fim de que esse dia chegue o mais brevemente, cada um de nós está chamado a contribuir para que a igualdade formal seja traduzida em igualdade de oportunidades e de tratamento para negros, brancos, homens, mulheres e assim por diante. Matilde Ribeiro, 43, mestra em serviço social pela PUC-SP, é ministra da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Vitorino Francisco Antunes Neto: Em defesa da advocacia paulista Índice |
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