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CLÓVIS ROSSI
Ousar fazer, ousar vencer
CARACAS - Num ponto, pelo menos,
o governo de Luiz Inácio Lula da Silva já se distingue do de Fernando
Henrique Cardoso (e também dos de
antecessores de ambos), mesmo ainda não tendo começado.
É no ensaio de assumir um papel de
protagonista na área internacional
(na América do Sul, especificamente), caracterizado pelo envio a Caracas do historiador Marco Aurélio
Garcia, que será o assessor diplomático de Lula a partir de 1º de janeiro.
Marco Aurélio está no que chama
de "missão informativa", por ele definida assim: "Há momentos de crise
em que uma avaliação direta pode
acrescentar elementos às informações recebidas pelos canais convencionais" (o Itamaraty).
A Venezuela está numa baita crise,
em meio à qual é difícil obter informações confiáveis porque a mídia local mergulhou na conspiração contra
o presidente Hugo Chávez.
Posso estar enganado, mas minha
memória não registra caso recente de
um emissário pessoal de um presidente brasileiro (ainda mais um presidente que nem assumiu ainda) envolver-se diretamente em qualquer
situação, mesmo não tão crítica.
Pode até não dar certo, mas, do
ponto de vista da visibilidade, a ousadia funcionou: Marco Aurélio esteve com Chávez logo depois do almoço, voltaria ao Palácio de Miraflores,
a sede do governo, para jantar, avistou-se com o vice-presidente, com o
chanceler, com o secretário-geral da
OEA, César Gaviria, e verá também
lideranças oposicionistas.
Foi capa nos dois principais jornais
de ontem e teve sala cheia nas três vezes em que apareceu aos jornalistas
após encontros.
É claro que ajuda na visibilidade o
fato de que os Estados Unidos, tradicionalmente o país que faz e/ou resolve problemas, estão tendo uma política errática na Venezuela. Fica um
vazio que só o Brasil, pelo peso específico na região, pode preencher.
Tudo somado, parece claro que ousadia não é pecado, uma lição que
talvez sirva para a política interna
também.
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