São Paulo, sexta-feira, 20 de dezembro de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Ousar fazer, ousar vencer

CARACAS - Num ponto, pelo menos, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva já se distingue do de Fernando Henrique Cardoso (e também dos de antecessores de ambos), mesmo ainda não tendo começado.
É no ensaio de assumir um papel de protagonista na área internacional (na América do Sul, especificamente), caracterizado pelo envio a Caracas do historiador Marco Aurélio Garcia, que será o assessor diplomático de Lula a partir de 1º de janeiro.
Marco Aurélio está no que chama de "missão informativa", por ele definida assim: "Há momentos de crise em que uma avaliação direta pode acrescentar elementos às informações recebidas pelos canais convencionais" (o Itamaraty).
A Venezuela está numa baita crise, em meio à qual é difícil obter informações confiáveis porque a mídia local mergulhou na conspiração contra o presidente Hugo Chávez.
Posso estar enganado, mas minha memória não registra caso recente de um emissário pessoal de um presidente brasileiro (ainda mais um presidente que nem assumiu ainda) envolver-se diretamente em qualquer situação, mesmo não tão crítica.
Pode até não dar certo, mas, do ponto de vista da visibilidade, a ousadia funcionou: Marco Aurélio esteve com Chávez logo depois do almoço, voltaria ao Palácio de Miraflores, a sede do governo, para jantar, avistou-se com o vice-presidente, com o chanceler, com o secretário-geral da OEA, César Gaviria, e verá também lideranças oposicionistas.
Foi capa nos dois principais jornais de ontem e teve sala cheia nas três vezes em que apareceu aos jornalistas após encontros.
É claro que ajuda na visibilidade o fato de que os Estados Unidos, tradicionalmente o país que faz e/ou resolve problemas, estão tendo uma política errática na Venezuela. Fica um vazio que só o Brasil, pelo peso específico na região, pode preencher.
Tudo somado, parece claro que ousadia não é pecado, uma lição que talvez sirva para a política interna também.


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