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ELIANE CANTANHÊDE
De Lula para Lula
BRASÍLIA - Ao anunciar ontem o jurista Márcio Thomaz Bastos para o
Ministério da Justiça, o presidente
eleito fez uma análise do significado
do PT na política brasileira e falou
das suas expectativas em relação ao
novo ministro e ao governo do PT.
Ou seja, em relação a si mesmo.
Segundo Lula, ainda bem que ele só
se elegeu agora, porque o partido
aprendeu muito com as três derrotas
à Presidência (89, 94 e 98), e sua vitória tem uma "simbologia muito forte" para o Brasil, para a América Latina e para a América do Sul: a de
que a esquerda pode chegar ao poder
pelo voto. "Um alento!"
"Se não fosse o PT, isto aqui [o Brasil" já tinha virado uma Colômbia há
muito tempo", disse Lula na OAB, a
um auditório lotado de advogados,
muitos com antiga militância na esquerda. O que ele quis dizer? Que o
PT fez uma firme oposição institucional, impedindo arroubos de grupos
armados, como no país vizinho, onde
as Farc criaram um Estado paralelo.
Dirigindo-se a Thomaz Bastos, ou
simplesmente pensando alto diante
do microfone, Lula advertiu: "Ganhar é mais fácil do que governar",
"a auto-estima está estampada na
cara do povo brasileiro", "palmas e
vaias na política são como em jogo de
futebol" (se o time faz gol de bicicleta,
todo mundo aplaude; se está perdendo depois por 2 x 0, ninguém se lembra mais do gol e todo mundo vaia).
Ensinou, enfim, ao futuro ministro:
"Quero saber se serei capaz de fazer
aquilo que quero que os outros façam", "realize no Ministério da Justiça tudo aquilo que você quis a vida
inteira que o ministro da Justiça fizesse" e "que os interesses das maiorias prevaleçam sobre os interesses da
minoria". No fim, conclamou: "A bola está com você. Faça o gol!".
É mais ou menos a mesma coisa
que, em resumo, o povo brasileiro está dizendo a Lula a dias da posse: que
seja capaz de fazer aquilo que queria
que "os outros" fizessem, realize tudo
aquilo que quis a vida inteira que o
presidente fizesse e faça prevalecer os
interesses da maioria.
A bola, Lula, está é com você!
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