São Paulo, quarta-feira, 21 de janeiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CLÓVIS ROSSI

Empataram

DAVOS - Os dois grandes foros globais, o Social e o Econômico, parecem mais ou menos empatados. Empate ruim, porque ambos não conseguem avançar no que se propõem. Davos, se eliminada a espuma com que a esquerda encobre seu fórum, quer apenas retocar o mundo, dando-lhe vernizes mais humanos, ao passo que Porto Alegre/Mumbai quer é outro mundo, que até acha possível.
Na prática, se roçam, do que dá prova o fato de que, nos últimos dias, Davos divulgou trabalhos que caberiam mais em Mumbai, para onde se deslocou neste ano o encontro de Porto Alegre. O primeiro trabalho mostra que a maioria dos terráqueos se sente insegura e acha que seu país é menos próspero do que há dez anos. O segundo comprova que o mundo fez pouco para atingir as generosas Metas do Milênio (da Cúpula do Milênio, Nova York, 2000).
Combustível perfeito para gritar por "outro mundo", não?
O problema é que também Davos tem iniciativas para corrigir o mundo, o que significa que é falha igualmente sua o fato de o estado do planeta ser pouco elogiável. Aliás, o "slogan" do Fórum Econômico Mundial é justamente "Comprometido com a Melhoria do Estado do Mundo".
Já Porto Alegre/Mumbai falha porque, como venho escrevendo desde antes de ser criado o Fórum Social Mundial, ao formidável movimento social que ele acabou por aglutinar faltam propostas mais objetivas. Aliás, é mais ou menos isso o que disse Cândido Grzybowski, um de seus mais lúcidos participantes, para Gabriela Athias, desta Folha.
Reforça Antonio Caño, enviado especial do jornal espanhol "El País" a Mumbai: "(O fórum) mantém-se como simples espaço reivindicativo. Ao fim e ao cabo, seus inimigos, os liberalizadores, continuam fazendo progressos, ainda que seja com alguns danos colaterais".
Os "liberalizadores" sentem-se à vontade em Davos, até porque percebem que a retórica mudancista por aqui acaba caindo no vazio tanto quanto a do fórum rival. Perdem ambos, ganha o "status quo".


Texto Anterior: Editoriais: APENAS A LARGADA

Próximo Texto: Brasília - Igor Gielow: O outro mundo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.