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CLÓVIS ROSSI
Empataram
DAVOS - Os dois grandes foros globais, o Social e o Econômico, parecem
mais ou menos empatados. Empate
ruim, porque ambos não conseguem
avançar no que se propõem. Davos,
se eliminada a espuma com que a esquerda encobre seu fórum, quer apenas retocar o mundo, dando-lhe vernizes mais humanos, ao passo que
Porto Alegre/Mumbai quer é outro
mundo, que até acha possível.
Na prática, se roçam, do que dá
prova o fato de que, nos últimos dias,
Davos divulgou trabalhos que caberiam mais em Mumbai, para onde se
deslocou neste ano o encontro de Porto Alegre. O primeiro trabalho mostra que a maioria dos terráqueos se
sente insegura e acha que seu país é
menos próspero do que há dez anos.
O segundo comprova que o mundo
fez pouco para atingir as generosas
Metas do Milênio (da Cúpula do Milênio, Nova York, 2000).
Combustível perfeito para gritar
por "outro mundo", não?
O problema é que também Davos
tem iniciativas para corrigir o mundo, o que significa que é falha igualmente sua o fato de o estado do planeta ser pouco elogiável. Aliás, o "slogan" do Fórum Econômico Mundial
é justamente "Comprometido com a
Melhoria do Estado do Mundo".
Já Porto Alegre/Mumbai falha porque, como venho escrevendo desde
antes de ser criado o Fórum Social
Mundial, ao formidável movimento
social que ele acabou por aglutinar
faltam propostas mais objetivas.
Aliás, é mais ou menos isso o que disse Cândido Grzybowski, um de seus
mais lúcidos participantes, para Gabriela Athias, desta Folha.
Reforça Antonio Caño, enviado especial do jornal espanhol "El País" a
Mumbai: "(O fórum) mantém-se como simples espaço reivindicativo. Ao
fim e ao cabo, seus inimigos, os liberalizadores, continuam fazendo progressos, ainda que seja com alguns
danos colaterais".
Os "liberalizadores" sentem-se à
vontade em Davos, até porque percebem que a retórica mudancista por
aqui acaba caindo no vazio tanto
quanto a do fórum rival. Perdem ambos, ganha o "status quo".
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