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COTAS EM QUESTÃO
A Justiça começou a conceder
liminares a estudantes lesados
pela adoção do sistema de cotas na
Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Um deles obteve o 110º lugar
entre os candidatos a uma das 304
vagas do curso de direito, mas não
estava incluído na cota de 50% para
alunos da rede pública nem na de
40% para negros ou pardos. Ficou
sem vaga. Um juiz determinou que
ele seja aceito na universidade.
A decisão expõe o ponto fraco do
modelo: a discriminação. Como as
vagas nas universidades públicas são
finitas, as vantagens concedidas a
uma categoria social implicam prejuízos para todas as demais. O mecanismo contradiz o princípio do mérito, que deveria nortear a distribuição
das vagas: se a seleção se baseia na
escolha dos melhores, as cotas distorcem o fundamento do sistema. O
artifício encerra ainda um dilema ético: se indivíduos carentes ou discriminados devem ser de algum modo
protegidos, isso não é desculpa para
criar novas formas de discriminação.
Qual é culpa do estudante que, a despeito de suas qualificações para entrar na faculdade, dela foi excluído?
Ninguém duvida que a intenção de
combater os efeitos do racismo é
louvável. Mas enganam-se os que
crêem que a manipulação do sistema
educacional é suficiente para corrigir
desigualdades sociais arraigadas. A
estratégia de incluir pobres e negros
nas universidades à força não vai eliminar as deficiências culturais que
tais alunos acumularam em suas vidas. O resultado provável será o aumento da evasão nas universidades.
Cabe registrar a ponderação do novo ministro da Educação, Cristovam
Buarque, que, embora favorável às
cotas para negros, reconhece que a
medida "não é adequada do ponto
de vista social". O enfrentamento da
questão do racismo exige políticas
estruturais, e não efeitos pirotécnicos: cabe ao Estado melhorar o ensino público, proporcionando, assim,
uma formação mais sólida aos alunos carentes, e elevar o número de
vagas oferecidas pelas universidades.
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