São Paulo, sexta-feira, 21 de maio de 2004

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OFENSIVA SANGRENTA

É criminosa a ação do Exército de Israel na faixa de Gaza. Numa operação de objetivos militarmente discutíveis, para não dizer despropositados, várias dezenas de palestinos e 13 soldados israelenses perderam a vida ao longos dos últimos dias. O horror atingiu seu clímax anteontem, quando um helicóptero e um tanque abriram fogo contra manifestantes palestinos no campo de refugiados de Rafah, matando pelo menos dez pessoas, incluindo várias crianças.
Pode-se admitir que os disparos não tinham o objetivo de acertar os palestinos, mas de dispersá-los. Ainda assim o Exército de Israel deve ser responsabilizado pelas mortes, pois tragédias como essa sempre acabam ocorrendo quando se utiliza armamento de guerra em áreas densamente povoadas por civis.
Para agravar o quadro, Israel segue com suas operações em Rafah e mantém seus planos de demolir casas de palestinos supostamente utilizadas no contrabando de armas. É claro que o Estado judeu tem o direito de se defender contra o terrorismo, mas a destruição de centenas de lares se assemelha mais a uma punição coletiva do que a uma ação eficaz de segurança.
Fica a sensação de que o premiê israelense, Ariel Sharon, está empilhando cadáveres palestinos como parte de um bizarro jogo de cena para seus correligionários do Likud, o partido do governo. Depois que sua proposta de retirada unilateral de Gaza foi derrotada no referendo interno do Likud, o premiê tenta mostrar que sabe ser duro com os palestinos. Um dos argumentos da facção contrária a Sharon é o de que a retirada representaria uma rendição ao terrorismo palestino.
A estratégia do premiê mostra-se ainda mais patética quando se considera que Sharon não precisa do apoio dos radicais do Likud para abandonar Gaza, proposta que conta com sólido apoio da população israelense, além do aval dos EUA, da União Européia e da ONU.


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