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CLÓVIS ROSSI
Sobre vampiros
BRUXELAS - Há pelo menos uma notável semelhança no comportamento
dos ministros José Dirceu (Casa Civil)
e Humberto Costa (Saúde): ao verem
auxiliares de confiança flagrados como trambiqueiros, a reação de ambos foi a de manifestar surpresa, decepção, choque, frustração, sensação
de terem sido traídos.
Podem estar até sendo sinceros,
mas não há como escapar da conclusão de que são, no mínimo, tremendamente distraídos.
Dirceu conviveu com Waldomiro
Diniz durante 12 anos, chegaram a
morar juntos e, ainda assim, o atual
chefe da Casa Civil foi incapaz de
perceber que seu protegido não passava de um trambiqueiro.
Da mesma forma, Humberto Costa
trabalhou durante anos com Luiz
Cláudio Gomes da Silva, agora preso
pela Operação Vampiro, confiou-lhe
o cuidado das finanças em Pernambuco, chamou-o para o Ministério
em Brasília -e não notou nada,
apesar de ele próprio ter feito a denúncia que acabaria por levar seu
auxiliar de confiança à prisão.
A repetição do padrão é alarmante,
ainda mais em um partido que se
comportava como se tivesse o monopólio da virtude.
Já é grave o fato de as fraudes na
compra de hemoderivados terem
atravessado anos e anos, ministros e
ministros. Indica uma distração generalizada no trato do dinheiro público que compromete todos os ministros da Saúde desde o governo Fernando Collor, no qual se montou o
esquema (e, aí sim, não pode haver a
menor surpresa).
Não venham, pois, os neopaladinos
da moralidade pública, como o PFL e
o PSDB, mostrarem indignação.
Mais grave ainda, no entanto, é o
fato de que Dirceu e Humberto Costa
não herdaram os trambiqueiros.
Trouxeram-nos para Brasília, um até
para o núcleo do poder.
Um Waldomiro Diniz poderia ser
tratado como um baita azar. Dois já
passa da conta. Caracteriza uma situação típica de país da piada pronta, como costuma dizer José Simão:
ambos trouxeram vampiros para tomar conta do banco de sangue.
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