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IGOR GIELOW
Lições chinesas
BRASÍLIA - Lula vai hoje à China, país que resume as aspirações de sua
política externa. Desde o começo do
governo, foi anunciado que o país
asiático seria prioritário do ponto de
vista econômico e geopolítico.
No primeiro aspecto, nem é preciso
desfiar o rosário de números grandiloqüentes que colocam o país como
objeto de desejo por tudo o que pode
comprar e vender. Já nas implicações
estratégicas, na visão do Itamaraty
geiselista-lulista, qual melhor aliado
do que aquele que é temido pelos
EUA como potencial adversário num
futuro não muito distante?
Há também um componente simbólico. A China sempre encantou o
PT. Volta e meia algum grão-petista,
como José Genoino ou mesmo Lula,
cita o exemplo chinês de desenvolvimento. Brilha aos olhos do partido,
que já se orgulhou de ser de esquerda,
a visão de uma ordem unida de miseráveis virando milionários num espaço de 50 anos -independentemente de a realidade não ser assim.
Um observador maldoso poderia
até ver alguma identidade entre o
pendor autoritário de Lula e amigos
em casos como o do repórter do "New
York Times" e a idéia de liberdade de
imprensa chinesa. Exagero, lógico.
Aqui não temos "el paredón".
O que não muda o peso chinês. Se
quer buscar caminhos alternativos, o
Brasil está certo em procurar a China. Muito melhor do que pegar no pé
de turistas e jornalistas americanos
ou bajular ditadores de segunda.
Mas é preciso saber as diferenças
enormes de condições entre os países.
E que Pequim tem sua agenda, que
passa por uma dança econômica com
Washington, uma aliança militar
com Moscou e um nó gigante a desatar em sua estrutura bancária e produtiva. Isso sem contar todo o xadrez
local, com Taiwan, o Sudeste, o Japão
e as Coréias no tabuleiro.
"Não podemos fazer alianças até
sabermos os planos dos vizinhos", escreveu o general chinês Sun Tzu em
"A Arte da Guerra" (cerca de 500
a.C.). Na "nova geografia" sonhada
por Lula, a China é nossa vizinha.
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