São Paulo, sexta-feira, 21 de maio de 2004

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IGOR GIELOW

Lições chinesas

BRASÍLIA - Lula vai hoje à China, país que resume as aspirações de sua política externa. Desde o começo do governo, foi anunciado que o país asiático seria prioritário do ponto de vista econômico e geopolítico.
No primeiro aspecto, nem é preciso desfiar o rosário de números grandiloqüentes que colocam o país como objeto de desejo por tudo o que pode comprar e vender. Já nas implicações estratégicas, na visão do Itamaraty geiselista-lulista, qual melhor aliado do que aquele que é temido pelos EUA como potencial adversário num futuro não muito distante?
Há também um componente simbólico. A China sempre encantou o PT. Volta e meia algum grão-petista, como José Genoino ou mesmo Lula, cita o exemplo chinês de desenvolvimento. Brilha aos olhos do partido, que já se orgulhou de ser de esquerda, a visão de uma ordem unida de miseráveis virando milionários num espaço de 50 anos -independentemente de a realidade não ser assim.
Um observador maldoso poderia até ver alguma identidade entre o pendor autoritário de Lula e amigos em casos como o do repórter do "New York Times" e a idéia de liberdade de imprensa chinesa. Exagero, lógico. Aqui não temos "el paredón".
O que não muda o peso chinês. Se quer buscar caminhos alternativos, o Brasil está certo em procurar a China. Muito melhor do que pegar no pé de turistas e jornalistas americanos ou bajular ditadores de segunda.
Mas é preciso saber as diferenças enormes de condições entre os países. E que Pequim tem sua agenda, que passa por uma dança econômica com Washington, uma aliança militar com Moscou e um nó gigante a desatar em sua estrutura bancária e produtiva. Isso sem contar todo o xadrez local, com Taiwan, o Sudeste, o Japão e as Coréias no tabuleiro.
"Não podemos fazer alianças até sabermos os planos dos vizinhos", escreveu o general chinês Sun Tzu em "A Arte da Guerra" (cerca de 500 a.C.). Na "nova geografia" sonhada por Lula, a China é nossa vizinha.


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