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CLAUDIA ANTUNES
Histórias da carochinha
RIO DE JANEIRO - Era uma vez, há 13 anos, uma democracia asiática onde
os herdeiros políticos da dinastia fundadora da nação acharam que era
hora de renovar um modelo que se
esgotava e de fazer reformas que liberariam as forças produtivas para um
novo ciclo de crescimento. Parte das
mudanças era puro bom senso e de
fato elas tiveram sucesso.
Passado algum tempo, outros governantes foram eleitos e julgaram
conveniente radicalizar o projeto de
seus rivais. Com o apoio de líderes do
Ocidente, decidiram que os gastos
com os miseráveis deveriam deixar
de ser um peso, de modo que a minoria afluente pudesse brilhar.
Aí chegou o momento do ritual democrático e os pobres, afinal majoritários, deram um basta: reconduziram ao poder a velha dinastia, na esperança de que olhasse para suas necessidades. Entretanto a minoria
burlou as urnas e, por meio do mercado, rugiu ameaças. Os eleitos, cautelosos, escolheram para representá-los o mentor das reformas de 13 anos
antes. Os perdedores acalmaram-se,
mas, desconfiados, passarão os próximos anos espreitando uma virada.
Era uma vez, há dez anos, uma democracia sul-americana em que o
príncipe dos sociólogos foi eleito e
apostou que embarcaria a nação
num novo Renascimento mundial.
Com um plano original, conquistou
grande popularidade, mas embriagou-se com os elogios que os donos do
dinheiro sobre ele despejavam e não
atentou que o tal renascimento não
chegava.
Passado um bom tempo, a maioria
viu-se outra vez na orfandade e resolveu que chegara a hora de eleger alguém de sua própria classe. Mas a
minoria burlou as urnas e, por meio
dos mercados, rugiu ameaças. Então
os eleitos chamaram gente do antigo
governo para gerir os negócios do Estado. No entanto os derrotados ainda
temem que os governantes não tenham esquecido seu passado. Por isso, exigem que eles provem todo dia
que não farão nada que os ameace.
Até quando os povos vão acreditar
em histórias da carochinha?
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