São Paulo, sexta-feira, 21 de maio de 2004

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TENDÊNCIAS/DEBATES

As vozes do atraso

EDSON APARECIDO

O jornalista Elio Gaspari demonstrou, em sua coluna "Os tucanos viraram surfistas de ruína" (Brasil, pág. A6, 5/5), uma profunda irritação pelo fato de o PSDB provocar tantas saudades nos brasileiros. Inconformado com o reconhecimento obtido por nosso partido, Gaspari se esforça em tentar desqualificar sua história e a contribuição dada ao país. Mas não consegue negar algumas verdades evidentes aos olhos de todos. O PSDB não é uma "onda". É um partido sério e que tem um projeto para o Brasil.
Desde sua fundação, o PSDB se colocou como uma força formuladora de propostas e deixou claro que tinha quadros competentes para desenvolver políticas que mudassem o país. Ainda em 1989, Mário Covas lançou sua candidatura à Presidência da República pregando um choque estrutural que mudasse o Brasil e o preparasse para a extrema competitividade que o mundo passaria a viver. O tempo mostrou o acerto de Covas.
Quando foi chamado a colaborar no governo de Itamar Franco, o PSDB, por meio de Fernando Henrique Cardoso, promoveu a maior revolução da história de nossa economia, ao lançar o Plano Real e pôr fim a décadas de descontrole da inflação e de sangria de divisas. O reconhecimento do trabalho se deu na eleição de 94, que colocou o PSDB na Presidência da República e no governo de importantes Estados, entre os quais São Paulo.
O primeiro passo foi a recuperação da credibilidade do país e das instituições. Afinal, havíamos saído de um período duro, que teve como ponto mais dramático o afastamento do presidente Collor. Feito isso, o governo do PSDB passou para as reformas estruturais do Estado. Aí entra o papel exercido pelo PT. Os petistas, que tinham muitos dos atuais integrantes do governo Lula como parlamentares, votaram sistematicamente contra todas as propostas apresentadas, como as reformas da Previdência, tributária e administrativa; contra a quebra do monopólio das telecomunicações; contra a implantação do Fundef , que alterou significativamente a educação no país; e contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, que obriga os governantes a assumirem compromissos de boa gestão do dinheiro público.
Hoje os petistas, por não estarem preparados para administrar o país, repetem políticas iniciadas pelas administrações tucanas, que tiveram sua importância histórica, mas que já estão ultrapassadas, não constando mais nem na agenda do próprio PSDB.


O que a população percebe agora, passado um ano e meio de administração Lula, é que o PT não tem um programa de governo


A saudade que a opinião pública expressa, para horror de Elio Gaspari, é o respeito à atuação de homens públicos como Geraldo Alckmin, Mário Covas, Franco Montoro, Fernando Henrique Cardoso, Sérgio Motta e José Serra, que sempre demonstraram seu comprometimento com o país. Esse compromisso é que permitiu a construção da estabilidade econômica e de uma grande rede de proteção social.
O governador Geraldo Alckmin prova a coerência do PSDB ao se empenhar hoje em colaborar com o governo Lula na aprovação de medidas de interesse público. Alckmin é respeitado e tem altíssimos índices de aprovação em São Paulo graças a sua atuação séria na condução da gestão pública e social. O que a população percebe agora, passado um ano e meio de administração Lula, é que o PT não tem um programa de governo nem um projeto para o país.
Por isso caem por terra as afirmações de Gaspari de que o PSDB não é viável e de que não teria tido nenhuma idéia desde a eleição de 2002. O partido segue sua linha de atuação, independentemente de ser governo ou oposição. Anacrônicos e oportunistas são as opiniões baseadas apenas em simpatia pessoal e que não levam em consideração as transformações recentes do país, o importante trabalho de reestruturação do Estado e sua adaptação às necessidades dos tempos modernos.
Tão importante quanto a eficiência no exercício do comando é o respeito aos princípios da democracia e à transparência. Em nenhum momento os tucanos pediram que a imprensa falasse somente coisas boas do governo. Nenhum jornalista foi ameaçado de expulsão, mesmo que tenha sido irresponsável no exercício da profissão. As propagandas oficiais nunca veicularam mentiras, como vimos recentemente em um cenário armado para anunciar falsos resultados de programas sociais.
A argumentação raivosa e rancorosa de Elio Gaspari se confunde com a visão do PT, cuja propaganda partidária veiculada recentemente no horário eleitoral gratuito é a manifestação de quem não tem projeto estruturado nem argumentação sólida para propor medidas eficazes, preferindo esperar soluções a partir do nada. Foi um discurso de quem tem os olhos voltados ao passado e confunde propositadamente dados para tentar justificar a inércia no poder.
Gaspari, assim como os petistas, demonstra uma visão conservadora e atrasada ao fazer críticas recheadas de adjetivações e pobres em conteúdo.

Edson Aparecido, 46, deputado estadual pelo PSDB-SP, é o presidente do diretório municipal do partido na capital paulista.


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