São Paulo, sexta-feira, 21 de junho de 2002

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MARCELO BERABA

Onde está dom Álvaro?

RIO DE JANEIRO - Dom Álvaro é um dos codinomes que o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, utiliza quando conversa com seus comparsas. Ele deveria estar no presídio de segurança máxima Bangu 1. Mas, por um desses milagres das novas tecnologias, d. Álvaro tem o dom da ubiquidade e pode estar em todos os lugares.
Ele compra armas em São Paulo, toma conta dos seus feudos no Rio, ameaça desafetos em Goiânia, dá ordens ao advogado de Brasília. Do escritório em Bangu 1, despacha por telefone e continua a mandar e a desmandar no mundo do crime.
Os esquemas de comunicação dos presos com o mundo exterior não seriam possíveis sem a conivência de funcionários dos sistemas penitenciários. Assim como a longa sobrevivência de traficantes tão conhecidos, que têm territórios identificados, só é possível com a conivência ativa ou passiva de parte das polícias.
O governo do Rio ficou irritado com o Ministério Público no caso das ações em Bangu 1 que revelaram o esquema de d. Álvaro. Os promotores talvez tenham sido rudes com o secretário de Justiça ao não deixá-lo acompanhar a busca no presídio. Mas tudo indica que tinham razão para não confiar nos agentes da penitenciária. Mesmo com todos os cuidados, houve vazamento.
A governadora Benedita da Silva deveria estar irritada com seus auxiliares, que cometeram dois erros: não conseguiram impedir a entrada dos celulares e não abriram inquérito para investigar a central telefônica.
Benedita deveria, portanto, protestar contra a falta de educação dos promotores, mas agradecer pelo resultado das investigações. Afinal, o seu governo, que não conseguiu nos informar até agora, passadas quase três semanas, onde está o corpo de Tim Lopes nem onde se esconde o seu assassino, Elias Maluco, já sabe onde está d. Álvaro: em qualquer lugar do mundo, menos em Bangu 1.



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