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MARCELO BERABA
Onde está dom Álvaro?
RIO DE JANEIRO - Dom Álvaro é um dos codinomes que o traficante Luiz
Fernando da Costa, o Fernandinho
Beira-Mar, utiliza quando conversa
com seus comparsas. Ele deveria estar no presídio de segurança máxima
Bangu 1. Mas, por um desses milagres
das novas tecnologias, d. Álvaro tem
o dom da ubiquidade e pode estar em
todos os lugares.
Ele compra armas em São Paulo,
toma conta dos seus feudos no Rio,
ameaça desafetos em Goiânia, dá ordens ao advogado de Brasília. Do escritório em Bangu 1, despacha por telefone e continua a mandar e a desmandar no mundo do crime.
Os esquemas de comunicação dos
presos com o mundo exterior não seriam possíveis sem a conivência de
funcionários dos sistemas penitenciários. Assim como a longa sobrevivência de traficantes tão conhecidos, que
têm territórios identificados, só é possível com a conivência ativa ou passiva de parte das polícias.
O governo do Rio ficou irritado com
o Ministério Público no caso das
ações em Bangu 1 que revelaram o esquema de d. Álvaro. Os promotores
talvez tenham sido rudes com o secretário de Justiça ao não deixá-lo
acompanhar a busca no presídio.
Mas tudo indica que tinham razão
para não confiar nos agentes da penitenciária. Mesmo com todos os cuidados, houve vazamento.
A governadora Benedita da Silva
deveria estar irritada com seus auxiliares, que cometeram dois erros: não
conseguiram impedir a entrada dos
celulares e não abriram inquérito para investigar a central telefônica.
Benedita deveria, portanto, protestar contra a falta de educação dos
promotores, mas agradecer pelo resultado das investigações. Afinal, o
seu governo, que não conseguiu nos
informar até agora, passadas quase
três semanas, onde está o corpo de
Tim Lopes nem onde se esconde o seu
assassino, Elias Maluco, já sabe onde
está d. Álvaro: em qualquer lugar do
mundo, menos em Bangu 1.
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