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CARLOS HEITOR CONY
A mão e a lareira
RIO DE JANEIRO - Embora ignore os detalhes técnicos da reunião entre
Lula e Bush, mais uma vez o louvo
pela sua postura no panorama internacional, ao mesmo tempo em que
lamento sua verbosidade no cenário
nacional, verbosidade que a nada
tem levado o governo que, em linhas
gerais, segue os fundamentos ideológicos e operacionais do neoliberalismo de FHC.
Em certo sentido, nesses seis meses
de poder, ele está lembrando o finado
Jânio Quadros, que era uma coisa
aqui dentro e ameaçava ser outra para o consumo externo. Proibia brigas
de galo e condecorava Che Guevara.
Durou apenas sete meses (não faço
qualquer ilação ao mencionar os seis
meses de um e os sete meses do outro).
Seu discurso (e sua bastante presença ) em Davos foi um excelente sinal,
uma voz no deserto que, tal como outras vozes no deserto, às vezes frutifica e muda a história.
Sua posição durante a guerra do
Iraque, apesar de ter causado
apreensões na turma mais conservadora da política nacional, que aconselhava prudência e submissão à
agressão norte-americana, foi também uma "finest hour" desses primeiros meses de governo. A guerra contra Saddam Hussein, sem querer justificar o ditador iraquiano, foi um recado explícito de que os Estados Unidos não mais respeitam o direito internacional, de que destruirão qualquer país que for considerado suspeito à "pax" de Washington.
Em relação à Alca, a posição de Lula me parece correta. Dar apoio incondicional aos Estados Unidos é
atentar contra a nossa soberania e os
nossos projetos de desenvolvimento.
Vargas fez muito bem em negociar a
base de Natal em troca da nossa primeira siderúrgica. Sem ela, continuaríamos limitados às pequenas forjas
de fundo de quintal. Volta Redonda
foi o pontapé inicial de nossa industrialização.
Lembro uma frase de Churchill a
respeito dos países que aderiam à
Alemanha nazista: "Não se devem
esquentar as mãos na lareira do invasor".
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