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São Paulo, sábado, 21 de junho de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

A mão e a lareira

RIO DE JANEIRO - Embora ignore os detalhes técnicos da reunião entre Lula e Bush, mais uma vez o louvo pela sua postura no panorama internacional, ao mesmo tempo em que lamento sua verbosidade no cenário nacional, verbosidade que a nada tem levado o governo que, em linhas gerais, segue os fundamentos ideológicos e operacionais do neoliberalismo de FHC.
Em certo sentido, nesses seis meses de poder, ele está lembrando o finado Jânio Quadros, que era uma coisa aqui dentro e ameaçava ser outra para o consumo externo. Proibia brigas de galo e condecorava Che Guevara. Durou apenas sete meses (não faço qualquer ilação ao mencionar os seis meses de um e os sete meses do outro).
Seu discurso (e sua bastante presença ) em Davos foi um excelente sinal, uma voz no deserto que, tal como outras vozes no deserto, às vezes frutifica e muda a história.
Sua posição durante a guerra do Iraque, apesar de ter causado apreensões na turma mais conservadora da política nacional, que aconselhava prudência e submissão à agressão norte-americana, foi também uma "finest hour" desses primeiros meses de governo. A guerra contra Saddam Hussein, sem querer justificar o ditador iraquiano, foi um recado explícito de que os Estados Unidos não mais respeitam o direito internacional, de que destruirão qualquer país que for considerado suspeito à "pax" de Washington.
Em relação à Alca, a posição de Lula me parece correta. Dar apoio incondicional aos Estados Unidos é atentar contra a nossa soberania e os nossos projetos de desenvolvimento. Vargas fez muito bem em negociar a base de Natal em troca da nossa primeira siderúrgica. Sem ela, continuaríamos limitados às pequenas forjas de fundo de quintal. Volta Redonda foi o pontapé inicial de nossa industrialização.
Lembro uma frase de Churchill a respeito dos países que aderiam à Alemanha nazista: "Não se devem esquentar as mãos na lareira do invasor".


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