São Paulo, domingo, 21 de julho de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

A carta e as cartas

BRASÍLIA - As conversas de Armínio
Fraga com representantes dos candidatos à Presidência têm duas leituras políticas. Uma é positiva, a outra é negativa -no mínimo, duvidosa.
Lula despachou José Dirceu para uma visita à Casa Branca e Aloizio Mercadante para o gabinete do presidente do BC. Ganham Lula e o PT, pela demonstração de "maturidade" que os tais agentes econômicos e boa parte do eleitorado tanto cobram.
Ciro Gomes também vai marcar amanhã sua ida ao BC, Garotinho não irá se negar, e José Serra mandou o presidente do PSDB, José Aníbal, só para saber tudo aquilo que ele próprio, Serra, estava careca de saber.
Aos olhos do mundo, digamos assim, todos estão cumprindo o seu papel: "pensando no país", ratificando que o Brasil "está politicamente forte" e se comprometendo com uma "transição pacífica".
Tudo muito bem, mas a coisa muda quando começam a falar que Armínio vai fazer sua cara mais inocente e pedir que os candidatos assinem uma "carta de intenções", conforme publicou "O Globo" na sexta-feira. É pedir demais.
Tal carta conteria compromissos básicos: respeito aos contratos, às metas de inflação e ao controle fiscal. Mas, se é tão genérica, ninguém precisa assinar. E, se for mais especifica, aí é que não dá.
Ciro já criticou as metas de inflação como "tecnicamente erradas". O PT há anos marreta o governo pelos acordos com o FMI, que só foram iniciados quatro anos depois da posse. Lula, pois, não poderia ser o primeiro presidente a assinar um acordo com a turma antes mesmo da posse...
Além do mais, só o ministro da Fazenda e o presidente do BC têm autoridade para assinar compromissos desse tipo. Que valor teriam as assinaturas de meros candidatos a presidente? Tanto quanto a palavra.
Por fim, uma lembrança: no fundo (duplo sentido, sim), quem dá as cartas não é nenhum desses. É uma mulher: Anne Kruger, do FMI, que estará amanhã em Brasília. É ela quem manda. Até chuvas e trovoadas.



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