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São Paulo, segunda-feira, 21 de julho de 2003

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Cinismos

SÃO PAULO - Desalojado do poder depois de ter levado a economia do país à breca, o tucanato começa a sair de sua depressão pós-eleitoral para pôr novamente as asinhas de fora. Foi mais curto do que o esperado o doce inverno europeu de FHC. Generoso nas entrevistas e ácido com o PT, o ex-presidente voltou a operar na política miúda para ocupar o espaço vazio de uma oposição até aqui paralisada ou primitiva demais para fazer cócegas na lua-de-mel de Lula com o eleitorado. Mais do que a simples retórica da vingança dos vencidos, o que se organiza em torno e a partir de FHC é o esboço de uma alternativa de poder. Não há outra à vista. A graça desse roteiro previsível corre por conta da inversão simétrica de papéis. Eleito para mudar, Lula age como novo-rico. Comprou o pacote completo do antecessor -do discurso da responsabilidade fiscal à ladainha das reformas, passando pelo gosto de pavonear mundo afora. Os tucanos, por sua vez, descobriram as delícias da bravata. Trouxeram a público dois documentos com a intenção de dinamitar os seis primeiros meses de gestão petista. Acabaram sucumbindo ao espetáculo do cinismo. Quem reduziu a pó o patrimônio público para pagar juros à banca e, ainda assim, conseguiu levar a dívida interna de 30% para 60% do PIB em oito anos não tem autoridade moral para dizer que "o espetáculo da recessão já começou". O governo do PT pode até se revelar tão incompetente quanto vaticina a pena tucana, mas quem tem um apagão no currículo deve pensar antes de gorjear para a platéia. Para seguir os próximos capítulos dessa novela, é bom ter sempre em mente o seguinte: o que um diz do outro quase sempre é verdade, mas não o que cada um diz de si mesmo.
 

É risível e tosca a chantagem dos juízes que alardeiam o risco de uma "crise institucional" no país, caso a reforma da Previdência não acolha o tal subteto de 90% para a categoria. Estão confundindo seus caraminguás com democracia. Que coisa feia.


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