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CARLOS HEITOR CONY
O bom e o mau
RIO DE JANEIRO - Se me perguntarem (ninguém me pergunta nada há
muito tempo) o que mais me irrita
atualmente e o que mais me gratifica,
eu responderei que é o computador.
Na verdade, fica difícil imaginar a vida profissional sem ele, seus recursos
de memória e arquivo, a capacidade
de fazer correções, eliminar ou acrescentar palavras e parágrafos.
É também irritante, sobretudo com
os programas cada vez mais avançados que bolam para os usuários. Não
sei qual foi o gênio que programou os
dias da semana (segunda, terça,
quarta etc.) com maiúsculas. Não os
uso assim, e toda vez que começo a
escrever "na segunda fila" ou "ter ou
não ter, eis a questão" sou obrigado a
eliminar a maiúscula, pois o computador, para melhor e mais rapidamente me servir, acha que eu vou escrever o que não quero nem preciso
escrever.
Acho que já contei esta história. Se
contei, conto-a outra vez, pois ela expressa exatamente o que o computador pode nos dar de bom e ruim. Um
escritor norte-americano escreveu
um romance em que o personagem
principal teria o nome de Julieta. Um
amigo, que leu os originais, achou
que o nome italianado não combinava com a mocinha do oeste dos Estados Unidos, que devia se chamar
Bárbara, Carol ou Kate.
O autor concordou e usando o recurso do "replace", ordenou que toda
a vez que aparecesse a palavra "Julieta", fosse ela substituída pela palavra
"Bárbara".
Mandou o original assim emendado para a editora e quando recebeu o
primeiro exemplar de sua obra, verificou que os seus personagens haviam ido ao teatro assistir a uma peça de Shakespeare intitulada "Romeu e Bárbara".
Ao computador pode-se aplicar
aquele pensamento do cão de Quincas Borba, que para facilitar as coisas, tinha o mesmo nome do dono:
"Nada é completamente bom, nada é
completamente mau".
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