São Paulo, sábado, 21 de agosto de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Petulâncias tolas

SÃO PAULO - O PT parece empenhado em espezinhar as instituições republicanas. O caso recente mais espetacular é a afirmação do presidente nacional do partido, José Genoino, para quem o presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim, "vai colocar o carro nos eixos".
"Carro", no caso, é exatamente a mais alta corte judicial brasileira.
Quando Jobim foi nomeado ministro do STF, na gestão Fernando Henrique Cardoso, petistas de grosso calibre viviam dizendo que ele seria "o líder do governo no Supremo". Agora, vai "colocar o carro nos eixos".
O distinto público fica, portanto, autorizado a supor que o Supremo, na visão do PT, é apenas um apêndice do governo de plantão.
Tanto havia ruído ruim na frase que Genoino cuidou ontem de "esclarecer" o que havia dito, mas sem retirar o do "carro nos eixos".
Afinal, se o PT acusava um ministro da Casa de ser "líder do governo" e, agora, diz que ele vai colocar o STF nos "eixos", que só podem ser os eixos pelos quais se pauta o governo, a única conclusão possível é a de que, ao menos para o partido ora no governo, não há separação de Poderes, mas a mais absoluta promiscuidade.
Não faltará quem diga que esse tipo de mentalidade reflete o autoritarismo intrínseco dos petistas. Pode ser, mas eu prefiro outra hipótese: trata-se de uma soma de despreparo com petulância típica de novos-ricos.
Novos-ricos porque: 1) Nunca ocuparam o poder federal e, agora, se lambuzam com ele; 2) A economia vive o melhor momento desde a posse de Lula, o que faz com que a turma de novos-ricos acenda charutos com notas de US$ 100, na forma de uma retórica boboca.
Em um momento de calmaria como o atual, esse tipo de frase pode ser visto apenas como folclórico. Mas é sempre conveniente tratar com respeito, até retórico, as instituições.


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