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FERNANDO RODRIGUES
Transparência zero
BRASÍLIA - Ao sancionar a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), Lula
vetou o acesso de deputados e senadores ao Siafi. Logo depois, editou
um decreto dando de volta esse privilégio mixuruca. É pouco ou quase nada na direção da transparência.
O Siafi é o Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo
Federal. Ali é possível saber quantas
garrafas de água tônica ou quantos
roupões de algodão egípcio são comprados pelo Planalto.
Só congressistas têm acesso total ao
Siafi. Se um dos 179,4 milhões de brasileiros deseja consultar o sistema,
precisa mendigar a um deputado ou
senador. É degradante.
O episódio exemplifica à perfeição
a distância entre o que a administração Lula promete em público e o que
tem feito na prática. Em janeiro de
2003, o ministro Waldir Pires, da
Controladoria Geral, declarou o seguinte: "Quero abrir o Siafi para que
todos os cidadãos tenham acesso.
Quero também a ampla publicidade
dos balanços e relatórios periódicos
da administração pública. Sempre de
forma inteligível a todos".
Waldir Pires está certo. Deveria
protestar contra outros vetos que Lula impôs ao sancionar a LDO. Por
exemplo, foi vetada a obrigatoriedade para o governo explicitar "os parâmetros esperados" para o "nível de
endividamento e volume de desembolso com serviço da dívida".
Lula também ficou invocado com a
expressão "acesso irrestrito" a dados
sobre Orçamento, Previdência e arrecadação. Vetou-a. Eis a justificativa:
"[A] divulgação pode perturbar desnecessariamente o ambiente político
e econômico do país, sem nenhuma
vantagem aparente". Fantástico.
O governo Lula tem alguns defeitos,
menos o da incoerência. Primeiro,
propôs uma lei que visa "orientar,
disciplinar e fiscalizar" a atividade
de jornalismo. Agora, decide quais
informações sobre seus gastos podem
"perturbar desnecessariamente o
ambiente" -como se já não fosse
perturbada ao máximo a mente capaz de produzir raciocínio com tanto
desapreço pela transparência.
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