São Paulo, Sábado, 21 de Agosto de 1999
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SEM REMÉDIOS

Muito se critica o governo por permitir que o Tesouro seja arrombado por interesses corporativos. Mas marchas à capital federal, locautes caminhoneiros e ataques ruralistas não devem se confundir com reclamos legítimos, mas difusos, por gastos públicos essenciais. Esse parece ser o caso agora na área da saúde.
A regularidade da distribuição pública de medicamentos, para doentes de Aids, tuberculose e malária, entre outros, só poderá ser garantida, diz o Ministério da Saúde, com suplementação de verba de R$ 218 milhões. Isso porque o orçamento do ministério não contempla, nem poderia fazê-lo, o encarecimento de medicamentos causado pela alta do dólar.
Vale lembrar que, no caso da Aids, sua letalidade diminuiu de maneira acentuada quando os doentes passaram a ter acesso gratuito a medicamentos como os coquetéis anti-retrovirais, conquista importante da saúde pública no Brasil.
Quanto à tuberculose, são registrados a cada ano cerca de 80 mil novos casos no país; o combate à doença é desde o ano passado prioridade assumida pelo governo federal.
A ameaça de desabastecimento em área tão delicada preocupa. Interromper a distribuição de drogas que combatem essas doenças -ou mesmo restringir sua oferta- seria dramática em termos de saúde pública.
Que os recursos venham de remanejamento emergencial de verbas do ministério, de decreto presidencial, de aval senatorial. Para os doentes que dependem da distribuição pública, muitos oriundos das camadas mais pobres, cujo amparo se tornou caricata mania de certos políticos, é essencial que o poder público cumpra seus compromissos, de maneira especial os humanitários. Que não espere uma marcha de moribundos sobre Brasília para agir.


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