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O segundo massacre
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - Vamos deixar de leguleios jurídicos e fazer a pergunta certa:
alguém aí acha que, se 19 PMs tivessem sido massacrados pelos sem-terra,
algum dos criminosos teria escapado
de uma condenação?
Mais provavelmente nem seriam levados a julgamento; teriam sido todos
executados no próprio local dos fatos.
Foi, aliás, o que aconteceu mesmo sem
que um só PM tivesse sofrido mais que
escoriações.
Os laudos sobre as execuções dos
sem-terra, a seu devido tempo resgatados pela reportagem desta Folha,
não deixam a menor dúvida sobre o
que aconteceu em Eldorado do Carajás: a execução sumária de sem-terra.
A menos que Deus, em um momento
de suprema ira, tivesse sido o responsável, é óbvio que há culpados e que os
culpados só podem ser encontrados
entre os policiais.
Pode-se até não chegar a culpados
individualizados. Mas, nessa hipótese,
mais que em qualquer outra, o responsável é o chefe imediato da operação, seguido pelos comandantes da
corporação e, em última instância, pelo chefe dos comandantes, ou seja, o
governador do Estado.
Em corporações hierarquizadas, como é o caso da PM, não há outra maneira de distribuir culpas, a menos
que se queira convidar à barbárie.
Em países minimamente civilizados, o que está longe de ser o caso do
Brasil, as punições, pelo menos administrativas, teriam até precedido o julgamento pela Justiça, sempre mais demorado (e, no Brasil, mais demorado
do que qualquer padrão civilizatório
mandaria impor).
Bastaria rever os laudos, ou até mesmo o videoteipe dos acontecimentos,
para que as autoridades punissem os
culpados pelo massacre. Eram por demais evidentes, incriminatórios, selvagens mesmo.
No Brasil, no entanto, as evidências
só pesam quando os acusados não
têm amparo algum.
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