São Paulo, quinta-feira, 21 de novembro de 2002

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VINICIUS TORRES FREIRE

Camelôs, tráfico e ruas globais

SÃO PAULO - Paulistanos bem de vida se orgulham de suas ruas lotadas de lojas carésimas e protegidas por enormes seguranças engravatados. São ruas como a Oscar Freire, dos riquíssimos Jardins, onde canetas, sapatos e bolsas custam tanto quanto um automóvel e automóveis custam tanto quanto apartamentos em bairros bons. O pessoal que gasta dinheiro lá gosta de dizer que nenhum lugar do mundo tem tantas lojas de marcas caras em tão pouco espaço e que vendem tanto quanto as dos globalizados Jardins. Pior é que é verdade.
Mas São Paulo e Rio de Janeiro oferecem muito mais em matéria de ruas globalizadas. Considere dois acontecimentos de ontem. Na rua 25 de Março, tradicional e enorme bazar do apodrecido centro paulistano, camelôs ilegais enfrentaram a polícia e fecharam o comércio. No Rio, o comandante da Polícia Militar disse que os tiroteios que fecham as Linhas Amarela e Vermelha e matam moradores das favelas adjacentes e motoristas só vão acabar quando não houver mais criminoso no Rio.
Muito camelô paulistano é o barnabé de uma rede criminosa internacional, que pirateia e contrabandeia mercadorias, mantém depósitos na cidade, contrata pontos-de-venda e corrompe servidores públicos a fim de manter suas atividades. Trata-se de crime organizado. A pirataria, de resto, cria problemas para a diplomacia do comércio brasileiro.
O tráfico, que fecha a balaços avenidas que atravessam o Rio, vive do contrabando de drogas, de armas e também da corrupção do serviço público, quando já não tem prepostos na máquina do Estado, como indicou a CPI do Narcotráfico.
Enquanto a bandidagem globaliza a morte e a corrupção nas ruas, o Estado brasileiro mal se move para nacionalizar o combate ao crime. Os programas federais de combate à violência de FHC fracassaram ou nem saíram do papel. A gente está falando muito da economia no governo Lula da Silva. Mas o que se vai fazer da globalização mortífera das ruas?


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