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VINICIUS TORRES FREIRE
Camelôs, tráfico e ruas globais
SÃO PAULO - Paulistanos bem de vida se orgulham de suas ruas lotadas
de lojas carésimas e protegidas por
enormes seguranças engravatados.
São ruas como a Oscar Freire, dos riquíssimos Jardins, onde canetas, sapatos e bolsas custam tanto quanto
um automóvel e automóveis custam
tanto quanto apartamentos em bairros bons. O pessoal que gasta dinheiro lá gosta de dizer que nenhum lugar do mundo tem tantas lojas de
marcas caras em tão pouco espaço e
que vendem tanto quanto as dos globalizados Jardins. Pior é que é verdade.
Mas São Paulo e Rio de Janeiro oferecem muito mais em matéria de
ruas globalizadas. Considere dois
acontecimentos de ontem. Na rua 25
de Março, tradicional e enorme bazar do apodrecido centro paulistano,
camelôs ilegais enfrentaram a polícia
e fecharam o comércio. No Rio, o comandante da Polícia Militar disse
que os tiroteios que fecham as Linhas
Amarela e Vermelha e matam moradores das favelas adjacentes e motoristas só vão acabar quando não
houver mais criminoso no Rio.
Muito camelô paulistano é o barnabé de uma rede criminosa internacional, que pirateia e contrabandeia
mercadorias, mantém depósitos na
cidade, contrata pontos-de-venda e
corrompe servidores públicos a fim de
manter suas atividades. Trata-se de
crime organizado. A pirataria, de
resto, cria problemas para a diplomacia do comércio brasileiro.
O tráfico, que fecha a balaços avenidas que atravessam o Rio, vive do
contrabando de drogas, de armas e
também da corrupção do serviço público, quando já não tem prepostos
na máquina do Estado, como indicou a CPI do Narcotráfico.
Enquanto a bandidagem globaliza
a morte e a corrupção nas ruas, o Estado brasileiro mal se move para nacionalizar o combate ao crime. Os
programas federais de combate à violência de FHC fracassaram ou nem
saíram do papel. A gente está falando
muito da economia no governo Lula
da Silva. Mas o que se vai fazer da
globalização mortífera das ruas?
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