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ELIANE CANTANHÊDE
Lula, ser ou não ser
RIO DE JANEIRO - Ir ou não ir, essa foi a questão de Lula diante da Cúpula de Negócios da América Latina,
que acontece no Rio. E ele não vem.
A Cúpula é um apêndice do Fórum
Econômico Mundial, que representa
a globalização, o neoliberalismo e
outros demônios, enquanto Lula e o
PT são aliados do Fórum Social de
Porto Alegre, o contraponto, ou antídoto, ao Fórum Econômico.
A dúvida atroz do presidente eleito,
portanto, tinha sentido. Ir à Cúpula,
no luxuoso hotel Sofitel, à beira da
baía de Guanabara, seria encarado
como "traição" ao Fórum Social, ao
PT e até à dupla Tarso Genro-Olívio
Dutra. Ou ao velho discurso petista.
De outro lado, faltar não é tão simples assim. Afinal, entre o velho discurso e o atual, da campanha e da
transição, há um oceano de paz e
amor. Que se estende aos tais mercados e aos grandes investidores internacionais. É exatamente para eles
que se fala na cúpula aqui no Rio.
Não dando o ar da presença, Lula
atende aos petistas mais ortodoxos e
menos liberais. Mas cria não apenas
frustração. Também cria uma certa
sensação de que "o PT, no fundo,
continua o mesmo".
Neste momento, em que Lula, José
Dirceu, Antônio Palocci e Aloizio
Mercadante se esfalfam em enviar sinais de simpatia para a direita interna e para os mercados e investidores
externos, foi uma decisão controvertida. E comentada entre organizadores e participantes.
Como compensação, Lula enviou a
prefeita Marta Suplicy e o próprio
Mercadante, que fala amanhã sobre
propostas para a retomada do crescimento na América Latina.
Mesmo assim, Lula poderia dar
"uma passadinha", sem abrir a boca
nem se comprometer com nada. Apenas para sinalizar que não tem ranço
contra o moderno mundo dos negócios. Apesar dos pesares, geram desenvolvimento, renda, emprego.
A decisão da ausência foi ideológica, a da presença teria sido mais prática, mais pragmática. Teria mais a
ver com o atual Lula e o atual PT.
A dúvida de Lula, pois, não era ir
ou não ir. É ser ou não ser.
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