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MARCELO BERABA
Pobres cidades
RIO DE JANEIRO - São dois retratos
das mazelas das nossas grandes cidades. Poderíamos buscar outros números, mas estes acabam de ser divulgados e bastam.
Primeiro foi o levantamento feito
pelo IBGE nas prefeituras, que mostrou que, em 2001, o país tinha cerca
de 16,5 mil favelas, onde estavam cerca de 2,4 milhões de casas (casas?). Isso devia abrigar no mínimo 10 milhões de pessoas. São Paulo tinha
quase 380 mil barracos e construções
em favelas, e o Rio, mais de 280 mil.
Todas as cidades com mais de 500
mil habitantes têm favelas.
São dados oficiais das prefeituras,
mas ninguém foi lá para conferir. Pode ser mais, pode ser muito mais. Pelo
cadastro, 23% das cidades informaram que têm favelas. Segundo o ministro Olívio Dutra (das Cidades), esse número na verdade é muito maior:
85%. E ainda há os loteamentos clandestinos, principalmente nas periferias, e os cortiços.
O outro retrato foi feito pela repórter Ana Paula Grabois a partir de dados do IBGE e mostra o crescimento
absurdo do número de crianças e jovens entre 10 e 14 anos obrigados a
trabalhar nas seis principais regiões
metropolitanas do país (Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio, São Paulo e Porto Alegre).
Em setembro do ano passado, o IBGE registrou a existência de cerca de
75 mil crianças correndo atrás de um
trocado nessas cidades. No início do
governo Lula, já eram 88 mil. Agora,
são 132 mil.
Se estão no mercado, seguramente
estão nas ruas ou em trabalhos precários. E, provavelmente, já não estudam. Estão fora do crime, é possível,
mas igualmente têm futuro incerto.
Os dois fenômenos -a explosão
das favelas e a exploração da mão-de-obra infantil- são resultados de
mazelas antigas que se agravam com
a falta de trabalho para os adultos e
com a queda constante da renda familiar.
São retratos da pobreza.
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