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São Paulo, sexta-feira, 21 de novembro de 2003

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MARCELO BERABA

Pobres cidades

RIO DE JANEIRO - São dois retratos das mazelas das nossas grandes cidades. Poderíamos buscar outros números, mas estes acabam de ser divulgados e bastam.
Primeiro foi o levantamento feito pelo IBGE nas prefeituras, que mostrou que, em 2001, o país tinha cerca de 16,5 mil favelas, onde estavam cerca de 2,4 milhões de casas (casas?). Isso devia abrigar no mínimo 10 milhões de pessoas. São Paulo tinha quase 380 mil barracos e construções em favelas, e o Rio, mais de 280 mil. Todas as cidades com mais de 500 mil habitantes têm favelas.
São dados oficiais das prefeituras, mas ninguém foi lá para conferir. Pode ser mais, pode ser muito mais. Pelo cadastro, 23% das cidades informaram que têm favelas. Segundo o ministro Olívio Dutra (das Cidades), esse número na verdade é muito maior: 85%. E ainda há os loteamentos clandestinos, principalmente nas periferias, e os cortiços.
O outro retrato foi feito pela repórter Ana Paula Grabois a partir de dados do IBGE e mostra o crescimento absurdo do número de crianças e jovens entre 10 e 14 anos obrigados a trabalhar nas seis principais regiões metropolitanas do país (Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio, São Paulo e Porto Alegre).
Em setembro do ano passado, o IBGE registrou a existência de cerca de 75 mil crianças correndo atrás de um trocado nessas cidades. No início do governo Lula, já eram 88 mil. Agora, são 132 mil.
Se estão no mercado, seguramente estão nas ruas ou em trabalhos precários. E, provavelmente, já não estudam. Estão fora do crime, é possível, mas igualmente têm futuro incerto.
Os dois fenômenos -a explosão das favelas e a exploração da mão-de-obra infantil- são resultados de mazelas antigas que se agravam com a falta de trabalho para os adultos e com a queda constante da renda familiar.
São retratos da pobreza.


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