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O TESTE DA LIDERANÇA
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva na semana passada,
no Equador, anunciou a intenção de
levar o Brasil a exercer a liderança diplomática na América do Sul. "Precisamos abrir novos espaços, desbravar a América do Sul, que está tão
próxima e tão distante", disse.
Não há novidade no projeto subjacente à declaração de Lula. A diplomacia brasileira historicamente oscila entre uma linha que apregoa a diminuição dos atritos com os EUA,
sem que isso redunde em alinhamento automático, e outra que advoga a expansão da influência brasileira na América do Sul como forma de
conter a força do gigante norte-americano na região.
Partidário desta última vertente
ideológica, Lula ensaia o seu primeiro teste prático no episódio da Venezuela. De início mais próximo de
Hugo Chávez que da oposição venezuelana, o presidente e a sua singular
estrutura de tomada de decisões na
política externa parecem que vão
temperando com pragmatismo o
ímpeto inicial. No fim de semana,
Lula corretamente negou um pedido
pessoal de Chávez para ampliar o
grupo de seis países formado para
ajudar na mediação internacional do
impasse venezuelano.
Ontem, o chanceler Celso Amorim
se declarou disposto a receber as lideranças da oposição a Chávez, encontro que, se acontecer logo, será
realmente oportuno.
Uma diplomacia mais ativa é algo
que esta Folha sempre cobrou dos
formuladores da política externa brasileira. Mas há que exercer esse papel
minimizando o potencial de resistência de grupos ou de nações sul-americanas que também temem que o gigantismo relativo do Brasil lhes
seja sufocante. A liderança regional é
um delicado jogo em que o aumento
da presença brasileira precisa ser visto como desejável, tendo como objetivo desfazer impasses, sejam eles de
natureza política, social, comercial
ou financeira.
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