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São Paulo, quarta-feira, 22 de janeiro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

O primeiro jogo do líder

DAVOS - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá uma oportunidade de ouro, em sua investida européia, de começar a dar mostras da liderança regional que seu governo prometeu exercer.
A viagem de Lula desperta curiosidade, nos círculos informados, é claro, mas a urgência européia é outra. Chama-se Iraque.
Os governos dos dois países que Lula visitará após Davos (Alemanha e França) compartilham a rejeição à pressa norte-americana em atacar Bagdá. Ou por uma real convicção ou por cálculo eleitoral (a maioria dos público é contra o ataque ao Iraque, dizem as pesquisas).
É razoável supor que Berlim e Paris veriam com agrado uma posição brasileira semelhante. Não importa que o Brasil conte pouco internacionalmente ou que os EUA, se resolverem, passam por cima até de Alemanha e França, dois aliados tradicionais e terceiro e quarto colocados no ranking de potências mundiais, respectivamente.
É sempre necessário fazer um esforço para parecer que a ação contra o Iraque é uma obra coletiva.
Se Lula for firme na posição contra a guerra, ajudará também a dinamitar uma das formidáveis bobagens que vem sendo construída em torno de sua diplomacia, a de que o Brasil não pode nem deve mexer nas coisas da Venezuela para não contrariar Washington.
Tolice. Pode haver razões para que o Brasil se omita na Venezuela, mas contrariar Washington certamente não é uma delas. Ao contrário, é puro servilismo, de resto inútil.
Não basta Lula dizer, como o fez na viagem a Washington, que o Brasil só apoia a guerra se houver aval da ONU. Essa é posição óbvia e conformista. O chanceler francês Dominique de Villepin, que não é de esquerda nem anti-norte-americano, disse muito mais: "Hoje, acreditamos não haver nada que justifique uma intervenção militar".
É bom lembrar que liderança não se constrói com omissão.


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