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CLÓVIS ROSSI
O primeiro jogo do líder
DAVOS - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá uma oportunidade de
ouro, em sua investida européia, de
começar a dar mostras da liderança
regional que seu governo prometeu
exercer.
A viagem de Lula desperta curiosidade, nos círculos informados, é claro, mas a urgência européia é outra.
Chama-se Iraque.
Os governos dos dois países que Lula visitará após Davos (Alemanha e
França) compartilham a rejeição à
pressa norte-americana em atacar
Bagdá. Ou por uma real convicção
ou por cálculo eleitoral (a maioria
dos público é contra o ataque ao Iraque, dizem as pesquisas).
É razoável supor que Berlim e Paris
veriam com agrado uma posição
brasileira semelhante. Não importa
que o Brasil conte pouco internacionalmente ou que os EUA, se resolverem, passam por cima até de Alemanha e França, dois aliados tradicionais e terceiro e quarto colocados no
ranking de potências mundiais, respectivamente.
É sempre necessário fazer um esforço para parecer que a ação contra o
Iraque é uma obra coletiva.
Se Lula for firme na posição contra
a guerra, ajudará também a dinamitar uma das formidáveis bobagens
que vem sendo construída em torno
de sua diplomacia, a de que o Brasil
não pode nem deve mexer nas coisas
da Venezuela para não contrariar
Washington.
Tolice. Pode haver razões para que
o Brasil se omita na Venezuela, mas
contrariar Washington certamente
não é uma delas. Ao contrário, é puro
servilismo, de resto inútil.
Não basta Lula dizer, como o fez na
viagem a Washington, que o Brasil só
apoia a guerra se houver aval da
ONU. Essa é posição óbvia e conformista. O chanceler francês Dominique de Villepin, que não é de esquerda nem anti-norte-americano, disse
muito mais: "Hoje, acreditamos não
haver nada que justifique uma intervenção militar".
É bom lembrar que liderança não
se constrói com omissão.
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