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CLAUDIA ANTUNES
O que importa na Alca
RIO DE JANEIRO - A empresa norte-americana Bechtel está processando
a Bolívia no tribunal de arbitragem do Banco Mundial. Reclama indenização de US$ 25 milhões pelo cancelamento, em 2000, da concessão do
serviço de água em Cochabamba, depois de protestos contra um aumento
de tarifas que provocaram nove mortes e levaram o governo a decretar estado de sítio.
O governo boliviano argumenta
que a empresa não havia investido
mais do que US$ 500 mil. Há uma
campanha internacional para pressionar a Bechtel a desistir da ação.
Processos como esse têm tudo a ver
com a intensificação, neste ano, das
negociações para a criação da Alca
(Área de Livre Comércio das Américas). O governo brasileiro decidiu que
vai entregar no prazo previsto suas
propostas de abertura comercial nas
áreas de produtos industriais e agrícolas, mas atrasará a definição do
que pode oferecer nas regras de investimentos e compras governamentais.
No Brasil, a discussão sobre comércio internacional costuma se concentrar nas barreiras protecionistas e
nos subsídios dos países ricos à agricultura. Mas a questão dos investimentos é mais sensível porque, no
longo prazo, garantias excepcionais
aos investidores estrangeiros podem
impedir que o país leve adiante qualquer política de desenvolvimento industrial.
O maior temor é de que, na Alca, as
regras sobre investimentos sejam
uma cópia do mal-afamado capítulo
11 do Nafta, o tratado de livre comércio entre Estados Unidos, Canadá e
México. Ao transferir para tribunais
externos as disputas entre investidores e governos, ele dificulta a proteção
a produtores locais e praticamente
impede a aplicação das leis nacionais, até no campo ambiental. Mesmo as formas de indenização a um
proprietário estrangeiro, em um caso
de expropriação, são diferentes das
estabelecidas nacionalmente.
Não se trata de negar direitos a investidores, que precisam de regras
claras para aplicar e produzir riqueza, mas de buscar um maior equilíbrio entre os interesses deles e os interesses da sociedade.
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