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ESTRABISMO DIPLOMÁTICO
O chanceler Celso Amorim
estará até o dia 26 no Oriente
Médio e na África do Norte. Visitará
ao todo nove países árabes. O interesse prioritário do Itamaraty, no
momento, é o sucesso do encontro
programado para o início de maio,
em Brasília, entre governantes árabes e sul-americanos. É compreensível que, diante de tal agenda, as ações
se concentrem nesses interlocutores.
No final de 2003, contudo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também esteve no Oriente Médio. Fez
cinco escalas, todas em capitais árabes. Não há nada de errado no fato
de o Brasil procurar ampliar seus intercâmbios comerciais com essa comunidade de países. Todavia, o país
revela um certo estrabismo ao não
tratar com a a mesma ênfase diplomática o Estado de Israel.
O fato de Israel não constar da
agenda recente de viagens do primeiro escalão brasileiro foi objeto de observação pontiaguda, na semana
passada, de um alto funcionário israelense, Ilan Sztulmann, do Ministério das Relações Exteriores local.
"Estamos surpresos porque o governo brasileiro, com boa vontade,
quer tomar parte no processo de paz
que já estamos travando hoje com os
palestinos. Mas eles [do Brasil] falam só com um lado", disse o diplomata à BBC-Brasil.
Ao mesmo tempo, Celso Amorim
mais uma vez visita a Síria, país suspeito de estar por detrás do atentado
que matou há dias Rafik Hariri, ex-primeiro-ministro libanês. Em outubro do ano passado o Brasil se absteve em votação do Conselho de Segurança da ONU que exigia que a Síria
se retirasse do Líbano.
Há falta de simetria no comportamento externo brasileiro. Mesmo
que as relações com Israel sejam hoje
amistosas, há fantasmas desonrosos
nos armários do Itamaraty, como
aquele que, nos anos 70, aceitou a
pressão do baixo clero da Assembléia Geral da ONU e associou o sionismo a uma forma de racismo.
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