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CLÓVIS ROSSI
Somos todos severinos
SÃO PAULO - Passado o espanto pela eleição de Severino Cavalcanti para a
presidência da Câmara, olhemos um
pouco no espelho.
Para começar, nem Severino nem
os 300 deputados que o elegeram penetraram na surdina no Congresso e
votaram indevidamente. São todos
regularmente eleitos -por mim, por
você, por nós.
Se você se ofende com a constatação, não é nada pessoal. Não é você,
fulanizado, mas o brasileiro médio.
Esse personagem, provavelmente
majoritário, é deseducado, desinformado (pateticamente desinformado), desinteressado, desorganizado e
despolitizado.
Quantas vezes você ouviu alguém a
seu lado dizer que não gosta de política, que não entende de política, como
se o ato de viver, em si, já não fosse
um tremendo manifesto político?
Somos todos aquela Kombi velha,
em estado falimentar, que, não obstante, vai resfolegando pela esquerda, na via expressa, segurando atrás
dela uma fileira enorme de veículos.
E, se você buzina pedindo passagem,
ganha de volta um xingamento.
Sim, porque a noção de certo e errado, de convivência, de civilização, de
direitos alheios é, no mínimo, nebulosa no Brasil. No fundo, certo é o que
fazemos; errado é o que os outros fazem.
Daí à face delinqüencial dessa nebulosa é um passo. Errado é quando
sou apanhado; até lá é certo.
Quantos amigos, profissionais liberais, você conhece que dão como endereço de sua empresa uma cidade
próxima de São Paulo? Não porque
ela de fato esteja lá instalada, mas só
para fugir do ISS mais elevado na capital. Pergunte se algum deles acha
errado essa, digamos, engenharia tributária.
Outras, digamos, "engenharias"
são tão parte do cotidiano que já nem
nos damos conta de que as praticamos. Não, não é com você, leitor. Mas
olhe em volta, por favor.
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