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ELIANE CANTANHÊDE
A cada dia, sua agonia
BRASÍLIA - Num dia, Severino defende aumento de salário de deputados,
cassação de quem faz leilão partidário e prorrogação do mandato de Lula por dois anos, sem reeleição.
Noutro dia, Renan Calheiros descarta aumento de salário de senadores, cassação e prorrogação do mandato presidencial.
O presidente do Senado, portanto,
aos poucos se coloca como contraponto ao da Câmara. Os dois são
nordestinos (Renan, alagoano; Severino, pernambucano), espertos e
muito bem articulados no Congresso.
Até por isso ganharam a eleição.
Há, porém, diferenças importantes.
Renan tem maior trânsito, foi assimilado há muito pelo "alto clero" e chegou à presidência do Senado de cima
para baixo, depois de uma luta fria e
determinada para, primeiro, evitar a
reeleição de José Sarney e, depois, fechar apoios no PMDB, no governo e
na oposição.
Severino, porém, ganhou de baixo
para cima. Enquanto o refinado Luiz
Eduardo Greenhalgh esgrimia com o
apoio oficial, e o alternativo Virgílio
Guimarães tentava alimentar a insatisfação da base em almoços e jantares, Severino garantiu o "baixo clero"
no primeiro turno, atraiu as oposições no segundo e ganhou. A Câmara
ainda é uma incógnita.
Num ponto, porém, Severino e Renan -que, aliás, têm almoço com líderes hoje- concordam: ambos protestam contra o Planalto, a arrogância dos ministros e a voracidade do
PT pelo poder. E cobram. Severino,
com o seu jeitão de baixo clero. Renan, com os cacoetes das raposas. Segundo ele, o governo deve ser de
"coalizão" e o PT precisa aprender a
"compartilhar o poder".
No fundo, é isso: nem Renan nem
Severino são homens de Lula e do PT,
mas têm de descer goela abaixo.
Além disso, verbalizam uma queixa
que não é deles, mas de seus partidos
e da grande maioria da base aliada.
Em 2006, tem eleição. Lula é candidatíssimo, mas toda essa gente também é. A hora é de distribuição de
mimos, carinhos e benesses do poder.
Aí, todos se acertam.
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