São Paulo, terça-feira, 22 de fevereiro de 2005

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ELIANE CANTANHÊDE

A cada dia, sua agonia

BRASÍLIA - Num dia, Severino defende aumento de salário de deputados, cassação de quem faz leilão partidário e prorrogação do mandato de Lula por dois anos, sem reeleição.
Noutro dia, Renan Calheiros descarta aumento de salário de senadores, cassação e prorrogação do mandato presidencial.
O presidente do Senado, portanto, aos poucos se coloca como contraponto ao da Câmara. Os dois são nordestinos (Renan, alagoano; Severino, pernambucano), espertos e muito bem articulados no Congresso. Até por isso ganharam a eleição.
Há, porém, diferenças importantes. Renan tem maior trânsito, foi assimilado há muito pelo "alto clero" e chegou à presidência do Senado de cima para baixo, depois de uma luta fria e determinada para, primeiro, evitar a reeleição de José Sarney e, depois, fechar apoios no PMDB, no governo e na oposição.
Severino, porém, ganhou de baixo para cima. Enquanto o refinado Luiz Eduardo Greenhalgh esgrimia com o apoio oficial, e o alternativo Virgílio Guimarães tentava alimentar a insatisfação da base em almoços e jantares, Severino garantiu o "baixo clero" no primeiro turno, atraiu as oposições no segundo e ganhou. A Câmara ainda é uma incógnita.
Num ponto, porém, Severino e Renan -que, aliás, têm almoço com líderes hoje- concordam: ambos protestam contra o Planalto, a arrogância dos ministros e a voracidade do PT pelo poder. E cobram. Severino, com o seu jeitão de baixo clero. Renan, com os cacoetes das raposas. Segundo ele, o governo deve ser de "coalizão" e o PT precisa aprender a "compartilhar o poder".
No fundo, é isso: nem Renan nem Severino são homens de Lula e do PT, mas têm de descer goela abaixo. Além disso, verbalizam uma queixa que não é deles, mas de seus partidos e da grande maioria da base aliada.
Em 2006, tem eleição. Lula é candidatíssimo, mas toda essa gente também é. A hora é de distribuição de mimos, carinhos e benesses do poder.
Aí, todos se acertam.


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