São Paulo, sábado, 22 de março de 2008

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MELCHIADES FILHO

Aviso prévio

BRASÍLIA - Por que José Serra se submeteria a um duelo acirrado à Hillary x Obama? O governador aprendeu com a experiência. Na derrota para Lula, em 2002, foi sabotado pelo próprio partido. A encarar um tira-teima, há de preferir buscar outro mandato em São Paulo -com a perspectiva de, reeleito, reduzir a pó os alckmistas que insistem em lhe atrapalhar a vida.
Embora plante por aí o desejo de uma prévia, Aécio Neves não deve pensar diferente. Expor o PSDB ao risco de uma fratura seria uma mancha no currículo "sem arestas" de um político que oferece acordos até ao mais ambicioso oponente.
Para vencer em 2010, a oposição precisa encontrar um discurso otimista verossímil -o pós-Lula, como diz Aécio. Seria difícil, porém, parecer construtivo durante um processo que inevitavelmente força a destruição do adversário interno.
Serra e Aécio sabem, portanto, que precisam um do outro para emplacar a chapa tucana. E Aécio sabe que sua única opção a isso seria sair aclamado pela base lulista -algo tão ou mais difícil de conseguir.
Até o PT deve deixar as prévias de lado. Na cúpula, só se fala em "não desperdiçar energias" e "construir consensos". Porto Alegre provou nesta semana que nem sempre a fila anda como desejam os caciques -preteriu o favorito do Planalto na escolha do candidato à prefeitura. O ministro Tarso Genro não demorou a passar recibo. Vitorioso na prévia em 2002, avisou que só tentará de novo o governo gaúcho se tiver o apoio de todo o partido.
Engajar a base nas escolhas majoritárias pode ser muito útil para um partido. Vitamina a militância, assegura espaços na mídia, oxigena a plataforma dos competidores etc.
No Brasil, porém, circunstâncias e casuísmos costumam prevalecer sobre a construção democrática.
Brasília chegou a se empolgar com as prévias do Partido Democrata, com a arrancada de Obama, com o detalhamento dos debates nos EUA. Mas a febre já passou.


mfilho@folhasp.com.br

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