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MELCHIADES FILHO
Aviso prévio
BRASÍLIA - Por que José Serra se
submeteria a um duelo acirrado à
Hillary x Obama? O governador
aprendeu com a experiência. Na
derrota para Lula, em 2002, foi sabotado pelo próprio partido. A encarar um tira-teima, há de preferir
buscar outro mandato em São Paulo -com a perspectiva de, reeleito,
reduzir a pó os alckmistas que insistem em lhe atrapalhar a vida.
Embora plante por aí o desejo de
uma prévia, Aécio Neves não deve
pensar diferente. Expor o PSDB ao
risco de uma fratura seria uma
mancha no currículo "sem arestas"
de um político que oferece acordos
até ao mais ambicioso oponente.
Para vencer em 2010, a oposição
precisa encontrar um discurso otimista verossímil -o pós-Lula, como diz Aécio. Seria difícil, porém,
parecer construtivo durante um
processo que inevitavelmente força
a destruição do adversário interno.
Serra e Aécio sabem, portanto,
que precisam um do outro para emplacar a chapa tucana. E Aécio sabe
que sua única opção a isso seria sair
aclamado pela base lulista -algo
tão ou mais difícil de conseguir.
Até o PT deve deixar as prévias de
lado. Na cúpula, só se fala em "não
desperdiçar energias" e "construir
consensos". Porto Alegre provou
nesta semana que nem sempre a fila anda como desejam os caciques
-preteriu o favorito do Planalto na
escolha do candidato à prefeitura. O
ministro Tarso Genro não demorou
a passar recibo. Vitorioso na prévia
em 2002, avisou que só tentará de
novo o governo gaúcho se tiver o
apoio de todo o partido.
Engajar a base nas escolhas majoritárias pode ser muito útil para um
partido. Vitamina a militância, assegura espaços na mídia, oxigena a
plataforma dos competidores etc.
No Brasil, porém, circunstâncias
e casuísmos costumam prevalecer
sobre a construção democrática.
Brasília chegou a se empolgar
com as prévias do Partido Democrata, com a arrancada de Obama,
com o detalhamento dos debates
nos EUA. Mas a febre já passou.
mfilho@folhasp.com.br
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