São Paulo, quinta-feira, 22 de abril de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Vá a Copenhague, Palocci

BRUXELAS - Como esta Folha informou ontem, a revista britânica "The Economist", associada a um instituto dinamarquês, está em busca de um novo consenso, que já batizou, com a presunção habitual, de "Consenso de Copenhague".
A iniciativa parte do reconhecimento de que há pouco dinheiro disponível para resolver os problemas globais, que vão da pobreza aos conflitos, da qualidade do ambiente às deficiências educacionais.
Se há pouco dinheiro, "devemos ter o cuidado de gastá-lo de forma a que possa ter o maior efeito", diz a apresentação da iniciativa.
É uma descrição que cabe à perfeição no Brasil: pilhas de problemas, pouco dinheiro para enfrentá-los, reduzido efeito das ações empreendidas por diferentes governos.
Por isso, tomo a liberdade de sugerir ao ministro Antonio Palocci, que me parece bem-intencionado, embora equivocado no caminho, que se autoconvide para a reunião do consenso, marcada para de 24 a 28 de maio, na capital dinamarquesa.
Afinal, se "The Economist", com seus 160 anos de certezas liberais, se dá agora ao direito de ter dúvidas sobre como resolver os problemas do mundo, Palocci deve ter dúvidas ainda maiores sobre como resolver os problemas do país, porque, primeiro, ainda não tem 160 anos e, segundo, faz muito pouco tempo que aderiu aos fundamentos da economia de mercado. Claro que o fez com o entusiasmo de cristão-novo, mas essa é outra história.
Não adianta ir a Copenhague acompanhado das certezas de bê-á-bá que lhe fornecem seus assessores. O mundo, não apenas o Brasil, está buscando caminhos, porque a era das certezas acabou.
"Vivemos agora em uma era pós-neoliberal na qual as certezas do Consenso de Washington deram lugar a buscas mais complexas", diz, por exemplo, o sociólogo uruguaio Francisco Panizza, especialista em América Latina da London School of Economics.
É hora, Palocci, de abrir os olhos para essa busca.


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