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CLÓVIS ROSSI
Vá a Copenhague, Palocci
BRUXELAS - Como esta Folha informou ontem, a revista britânica "The
Economist", associada a um instituto
dinamarquês, está em busca de um
novo consenso, que já batizou, com a
presunção habitual, de "Consenso de
Copenhague".
A iniciativa parte do reconhecimento de que há pouco dinheiro disponível para resolver os problemas
globais, que vão da pobreza aos conflitos, da qualidade do ambiente às
deficiências educacionais.
Se há pouco dinheiro, "devemos ter
o cuidado de gastá-lo de forma a que
possa ter o maior efeito", diz a apresentação da iniciativa.
É uma descrição que cabe à perfeição no Brasil: pilhas de problemas,
pouco dinheiro para enfrentá-los, reduzido efeito das ações empreendidas por diferentes governos.
Por isso, tomo a liberdade de sugerir ao ministro Antonio Palocci, que
me parece bem-intencionado, embora equivocado no caminho, que se
autoconvide para a reunião do consenso, marcada para de 24 a 28 de
maio, na capital dinamarquesa.
Afinal, se "The Economist", com
seus 160 anos de certezas liberais, se
dá agora ao direito de ter dúvidas sobre como resolver os problemas do
mundo, Palocci deve ter dúvidas ainda maiores sobre como resolver os
problemas do país, porque, primeiro,
ainda não tem 160 anos e, segundo,
faz muito pouco tempo que aderiu
aos fundamentos da economia de
mercado. Claro que o fez com o entusiasmo de cristão-novo, mas essa é
outra história.
Não adianta ir a Copenhague
acompanhado das certezas de bê-á-bá que lhe fornecem seus assessores.
O mundo, não apenas o Brasil, está
buscando caminhos, porque a era
das certezas acabou.
"Vivemos agora em uma era pós-neoliberal na qual as certezas do
Consenso de Washington deram lugar a buscas mais complexas", diz,
por exemplo, o sociólogo uruguaio
Francisco Panizza, especialista em
América Latina da London School of
Economics.
É hora, Palocci, de abrir os olhos
para essa busca.
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