São Paulo, quinta-feira, 22 de abril de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELIANE CANTANHÊDE

De norte a sul

BRASÍLIA - Rondônia, quem diria, está disputando espaço com o sempre imbatível Rio de Janeiro nas telas de TV, nas ondas de rádio, nas páginas das revistas e nas capas de jornais. Como não poderia deixar de ser, a disputa é, literalmente, sangrenta.
Rondônia é uma terra sem lei, sem agentes da lei. Avisos não faltaram e até houve um punhado de policiais federais na área de conflito entre índios e garimpeiros, mas estava ficando caro, o superávit primário falou mais alto, e os policiais saíram de cena. A coisa explodiu.
Se não preveniu, o governo federal tem dificuldade agora para remediar. Foram 29 garimpeiros mortos por índios cinta-larga. E seus cadáveres sendo transportados em sacos disputam espaço e horror com as cenas asfixiantes de reféns decapitados pelos presos da penitenciária Urso Branco, em Porto Velho.
Rondônia, porém, não é lá. Rondônia é aqui, como Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Salvador, Cuiabá. Além do Haiti, evidentemente. Só não se sabe onde tudo isso vai parar. A ameaça do MST de um "abril vermelho" se transformou numa realidade de "2004 negro".
Cadáveres de garimpeiros às dezenas e corpos dilacerados sendo jogados de prédios sob responsabilidade do Estado -caso de penitenciárias- era tudo de que o governo Lula não precisava agora.
A esse caos da distante Rondônia, vêm se somar as invasões do MST de norte a sul, a ofensiva dos sem-teto em São Paulo, as greves da Receita Federal e do INSS, as minas terrestres no Rio e a perspectiva de um novo salário mínimo com cara de governo FHC, não de PT na oposição.
Mas o presidente está sempre alerta (como os bons escoteiros) e tomando todas as providências. A primeira foi esparramar o PMDB por órgãos e fundações. O pau está quebrando pelo país afora, mas a calma reina no Congresso. Bem... mais ou menos. Até porque uma coisa é sempre vinculada a outra. País calmo, Congresso calmo. País chacoalhando, base aliada chacoalhando. Eis o que se tem.


Texto Anterior: Bruxelas - Clóvis Rossi: Vá a Copenhague, Palocci
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Dom Jorge Marcos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.