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ELIANE CANTANHÊDE
De norte a sul
BRASÍLIA - Rondônia, quem diria, está disputando espaço com o sempre
imbatível Rio de Janeiro nas telas de
TV, nas ondas de rádio, nas páginas
das revistas e nas capas de jornais.
Como não poderia deixar de ser, a
disputa é, literalmente, sangrenta.
Rondônia é uma terra sem lei, sem
agentes da lei. Avisos não faltaram e
até houve um punhado de policiais
federais na área de conflito entre índios e garimpeiros, mas estava ficando caro, o superávit primário falou
mais alto, e os policiais saíram de cena. A coisa explodiu.
Se não preveniu, o governo federal
tem dificuldade agora para remediar. Foram 29 garimpeiros mortos
por índios cinta-larga. E seus cadáveres sendo transportados em sacos disputam espaço e horror com as cenas
asfixiantes de reféns decapitados pelos presos da penitenciária Urso
Branco, em Porto Velho.
Rondônia, porém, não é lá. Rondônia é aqui, como Rio de Janeiro, São
Paulo, Recife, Salvador, Cuiabá.
Além do Haiti, evidentemente. Só
não se sabe onde tudo isso vai parar.
A ameaça do MST de um "abril vermelho" se transformou numa realidade de "2004 negro".
Cadáveres de garimpeiros às dezenas e corpos dilacerados sendo jogados de prédios sob responsabilidade
do Estado -caso de penitenciárias- era tudo de que o governo Lula não precisava agora.
A esse caos da distante Rondônia,
vêm se somar as invasões do MST de
norte a sul, a ofensiva dos sem-teto
em São Paulo, as greves da Receita
Federal e do INSS, as minas terrestres
no Rio e a perspectiva de um novo salário mínimo com cara de governo
FHC, não de PT na oposição.
Mas o presidente está sempre alerta
(como os bons escoteiros) e tomando
todas as providências. A primeira foi
esparramar o PMDB por órgãos e
fundações. O pau está quebrando pelo país afora, mas a calma reina no
Congresso. Bem... mais ou menos. Até
porque uma coisa é sempre vinculada a outra. País calmo, Congresso
calmo. País chacoalhando, base aliada chacoalhando. Eis o que se tem.
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