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CARLOS HEITOR CONY
Dom Jorge Marcos
RIO DE JANEIRO - Uma ida a Santo André, na semana passada, deu-me
um momento bom e triste ao mesmo
tempo. Esperando a hora de fazer
uma palestra na Casa da Palavra local, visitei a igreja ao lado sem saber
exatamente o que procurava num
templo que não chega a ser belo, mas
tem a dignidade sombria que se espera encontrar nas casas de recolhimento e prece.
Pensava num amigo, colega meu,
ele em fim de curso, eu iniciando-me
no "rosa, rosae" do latim que se ensinava nos seminários antigos. Jorge
Marcos de Oliveira ordenou-se e, de
colega, passou a ser mestre. Com apenas três anos de sacerdócio, foi eleito
bispo, inicialmente coadjutor aqui no
Rio, mais tarde primeiro bispo de
Santo André.
Foi o precursor de uma igreja anterior ao próprio Concílio Vaticano 2º,
anterior até mesmo a João 23. Sua
ida para Santo André, no centro de
comunidades operárias, foi a semente que criaria um novo tipo de pastoral. Dom Hélder, por exemplo, que o
sucedeu aqui no Rio, como auxiliar
de dom Jayme Câmara, sucedeu-o
também na luta pela justiça social.
E, de repente, enquanto pensava
em Jorge Marcos de Oliveira, aos pés
do altar dedicado a são José, encontrei a lápide com o nome de "Dom
Jorge Marcos de Oliveira, primeiro
bispo de Santo André".
Ali estava enterrado o nosso "Turcão", o aluno mais brilhante do seminário, depois o professor mais respeitado por todos nós. Gostávamos de
brincar com ele, cantando um hino
em sua homenagem: "Um dia desses
fui ao quarto do Turcão, encontrei
tudo no chão, ele morto de estudar,
nem sabia mais rezar".
Faz anos que não me ajoelho diante de nenhum altar. Mas ali estava
um amigo, que me deu o primeiro
charuto Suerdiek -no dia em que
saí do seminário- e me aconselhou
a evitar o cigarro: "Procure sempre as
coisas que valem a pena".
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