São Paulo, segunda-feira, 22 de julho de 2002

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VINICIUS TORRES FREIRE

A bolha e você

SÃO PAULO - A santa na janela de
Ferraz de Vasconcelos ou as venturas da primeira-dama "wannabe" Patrícia Pillar parecem assuntos menos chatos que o pânico nas Bolsas, mas a coisa está feia nos Estados Unidos, senhoras e senhores.
Os americanos estão à beira do medo histérico de uma tragédia nas Bolsas. Bolsa, lá, não é essa coisa pequena, esotérica e infelizmente desimportante que é no Brasil. O dinheiro que circula na Bolsa paulista em um dia roda na Bolsa de Nova York em minutos. Mais de 60% das famílias têm dinheiro lá. É a poupança, o plano de aposentadoria, o dinheiro guardado para pagar a universidade caríssima dos filhos deles.
A queda do preço das ações das empresas torra a poupança das famílias. Se mais gente entrar em pânico e vender suas ações, a Bolsa cai mais, torra mais poupança etc. Isso se chama "crash". Se acontecer, o já endividado americano tende a parar de gastar, com medo de desemprego, para recompor seu patrimônio. Se os EUA não gastam, a economia global emperra, nós aqui também.
O medo tem piorado porque se descobriu não só que empresas fraudavam o valor de seus lucros (mais lucro, mais uma ação tende a subir) e porque agora os lucros verdadeiros são menores, devido à recessãozinha de 2001 e a uma crise de superprodução na indústria. A mentira sobre os lucros era a alma do negócio da bolha dos 90. Era sistemática. Até dia 14 de agosto, as 945 maiores empresas têm de dizer ao governo se fraudavam balanços (o que não inclui a maquiagem esperta da era da bolha). Diz-se que há mais megafraudes por vir. O bicho vai pegar.
 
Após a tola história de que a número 2 do FMI viria ao país fechar um acordo, circula a tola idéia de que as relações do Brasil com os economistas de George Bush melhoraram porque o ministro das Finanças deles, Paul O'Neill, vem aqui. O'Neill, ora tratado como palerma por mídia e mercado nos EUA, esteve semana passada no Uzbequistão e no Quirguistão. Após o Brasil, vai à Argentina. Estamos bem no lance.



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