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VINICIUS TORRES FREIRE
A bolha e você
SÃO PAULO - A santa na janela de
Ferraz de Vasconcelos ou as venturas
da primeira-dama "wannabe" Patrícia Pillar parecem assuntos menos
chatos que o pânico nas Bolsas, mas a
coisa está feia nos Estados Unidos, senhoras e senhores.
Os americanos estão à beira do medo histérico de uma tragédia nas Bolsas. Bolsa, lá, não é essa coisa pequena, esotérica e infelizmente desimportante que é no Brasil. O dinheiro
que circula na Bolsa paulista em um
dia roda na Bolsa de Nova York em
minutos. Mais de 60% das famílias
têm dinheiro lá. É a poupança, o plano de aposentadoria, o dinheiro
guardado para pagar a universidade
caríssima dos filhos deles.
A queda do preço das ações das empresas torra a poupança das famílias.
Se mais gente entrar em pânico e
vender suas ações, a Bolsa cai mais,
torra mais poupança etc. Isso se chama "crash". Se acontecer, o já endividado americano tende a parar de
gastar, com medo de desemprego, para recompor seu patrimônio. Se os
EUA não gastam, a economia global
emperra, nós aqui também.
O medo tem piorado porque se descobriu não só que empresas fraudavam o valor de seus lucros (mais lucro, mais uma ação tende a subir) e
porque agora os lucros verdadeiros
são menores, devido à recessãozinha
de 2001 e a uma crise de superprodução na indústria. A mentira sobre os
lucros era a alma do negócio da bolha dos 90. Era sistemática. Até dia 14
de agosto, as 945 maiores empresas
têm de dizer ao governo se fraudavam balanços (o que não inclui a
maquiagem esperta da era da bolha).
Diz-se que há mais megafraudes por
vir. O bicho vai pegar.
Após a tola história de que a número 2 do FMI viria ao país fechar um
acordo, circula a tola idéia de que as
relações do Brasil com os economistas de George Bush melhoraram porque o ministro das Finanças deles,
Paul O'Neill, vem aqui. O'Neill, ora
tratado como palerma por mídia e
mercado nos EUA, esteve semana
passada no Uzbequistão e no Quirguistão. Após o Brasil, vai à Argentina. Estamos bem no lance.
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