São Paulo, segunda-feira, 22 de julho de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Vacas e chicletes

RIO DE JANEIRO - Não chego a ser
imbecil ao ponto de negar importância ao compacto noticiário sobre os principais candidatos à Presidência da República. A mídia, que antes tomava partido e aderia a partidos, e, quando não a partidos, a pessoas e causas específicas, procura ser pluralista, até o exagero -o que aumenta o tamanho, mas não a qualidade do noticiário.
Chega a ser engraçada a preocupação de dar aos quatro candidatos que estão no páreo (Lula, Ciro, Serra e Garotinho) os mesmos centímetros quadrados de página, de fotos e de textos.
De maneira geral, todos dizem e prometem a mesma coisa, já passaram ao eleitorado a imagem que cada um deles conquistou e merece. Como o espaço a eles dedicado é muito e como as idéias de cada um são poucas, fica-se sabendo, por exemplo, que Garotinho gosta de mascar chicletes, Ciro acessa internet compulsoriamente, Lula não sai de casa sem lenços de papel e Serra -esqueci o que Serra faz, acho que toma remédios, é hipocondríaco, confunde vaca com boi, embora candidato oficial do governo, parece que é o mais folclórico.
Nada tenho contra chicletes, contra a internet, contra os lenços de papel, contra as vacas e os bois, mas honestamente, não me entusiasmo com esse tipo de noticiário.
Pior: não acredito na alternativa, nas extensas matérias sobre os programas, as idéias, as intenções de cada um. Com pequenas modificações, são as mesmas e com o mesmo defeito: não levam em conta as circunstâncias que serão criadas a partir da posse do vitorioso. Circunstâncias que vão desde a situação da economia mundial à nomeação de um assessor para a delegação que irá ao estrangeiro discutir a taxa de ozônio na atmosfera terrestre.
A culpa não é dos candidatos. Eles estão pressionados a dar todos os dias palpites, desde a velocidade com que o Sol se precipita para outra galáxia até a solução para o conflito no Oriente Médio.



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