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São Paulo, terça-feira, 22 de julho de 2003

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CERCO A BLAIR

Até meados da semana passada, dois terços dos britânicos diziam acreditar que Tony Blair mentira em sua exposição de motivos para fazer a Guerra do Iraque em parceria com George W. Bush. Agora, 39% defendem que o premiê renuncie ao cargo, segundo pesquisa do jornal "Daily Telegraph". O percentual é apenas dois pontos inferior ao dos que advogam sua permanência.
A situação de Blair passou de difícil a dramática na esteira do caso David Kelly, conselheiro do governo para armas de destruição em massa encontrado morto na sexta-feira. Ele teria se suicidado. O microbiólogo de 59 anos estava no centro de acirrada disputa entre o governo e a rede pública de televisão BBC, que, no final de maio, acusou o assessor de imprensa de Blair de incluir informações duvidosas em dossiê sobre o poder de ataque de Saddam Hussein.
A despeito de inflamadas exigências oficiais, a BBC manteve em sigilo a fonte da reportagem. O governo então "vazou" para a imprensa o nome de Kelly. Submetido a duro interrogatório no Parlamento, ele negou ter dado as informações ao repórter. Dois dias depois, saiu de casa para caminhar e não voltou mais.
Conforme sua coloração política, os jornais britânicos estão divididos entre os que responsabilizam prioritariamente o governo e os que culpam a BBC -anteontem, a emissora reconheceu que sua fonte era mesmo Kelly. O segundo grupo é liderado pelas publicações do ultraconservador Rupert Murdoch, incansável defensor da guerra que agora tem a oportunidade de fustigar a BBC, um dos poucos veículos a realizar uma cobertura crítica do conflito.
Ao governo interessa caracterizar o episódio como um excesso da BBC, que teria, ela sim, "esquentado" as informações recebidas. Mas é improvável que a discussão jornalística baste para arrancar o trabalhista Blair da maior crise política desde sua ascensão ao poder, em 1997.
Do outro lado do oceano, também o presidente dos Estados Unidos começa a ser incomodado com perguntas da opinião pública.


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