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CERCO A BLAIR
Até meados da semana passada, dois terços dos britânicos
diziam acreditar que Tony Blair mentira em sua exposição de motivos para fazer a Guerra do Iraque em parceria com George W. Bush. Agora,
39% defendem que o premiê renuncie ao cargo, segundo pesquisa do
jornal "Daily Telegraph". O percentual é apenas dois pontos inferior ao
dos que advogam sua permanência.
A situação de Blair passou de difícil
a dramática na esteira do caso David
Kelly, conselheiro do governo para
armas de destruição em massa encontrado morto na sexta-feira. Ele teria se suicidado. O microbiólogo de
59 anos estava no centro de acirrada
disputa entre o governo e a rede pública de televisão BBC, que, no final
de maio, acusou o assessor de imprensa de Blair de incluir informações duvidosas em dossiê sobre o
poder de ataque de Saddam Hussein.
A despeito de inflamadas exigências oficiais, a BBC manteve em sigilo a fonte da reportagem. O governo
então "vazou" para a imprensa o nome de Kelly. Submetido a duro interrogatório no Parlamento, ele negou
ter dado as informações ao repórter.
Dois dias depois, saiu de casa para
caminhar e não voltou mais.
Conforme sua coloração política,
os jornais britânicos estão divididos
entre os que responsabilizam prioritariamente o governo e os que culpam a BBC -anteontem, a emissora
reconheceu que sua fonte era mesmo
Kelly. O segundo grupo é liderado
pelas publicações do ultraconservador Rupert Murdoch, incansável defensor da guerra que agora tem a
oportunidade de fustigar a BBC, um
dos poucos veículos a realizar uma
cobertura crítica do conflito.
Ao governo interessa caracterizar o
episódio como um excesso da BBC,
que teria, ela sim, "esquentado" as
informações recebidas. Mas é improvável que a discussão jornalística
baste para arrancar o trabalhista
Blair da maior crise política desde
sua ascensão ao poder, em 1997.
Do outro lado do oceano, também
o presidente dos Estados Unidos começa a ser incomodado com perguntas da opinião pública.
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