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São Paulo, terça-feira, 22 de julho de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Não é brincadeira

BRASÍLIA - Hoje é o Dia do Trabalho Doméstico, o que desperta emoções e preocupações em quem dependeu de empregadas na infância e continua dependendo depois de adulto e profissional. Com elas passou seus dias. Com elas deixa seus filhos.
Juízes, jornalistas, servidores, metalúrgicos, professores têm alto grau de mobilização e reivindicação. Ameaçam e fazem greves e até interferem em reformas constitucionais, lutando por direitos e/ou privilégios. E as nossas empregadas?
Pelo IBGE, há 5 milhões de empregados domésticos no Brasil, sendo 494 mil (meio milhão!) de 5 a 17 anos. Cuidam de outras crianças, limpam, lavam, passam, cozinham. Às vezes sem horário, sem descanso semanal, até sem salário.
Desse meio milhão, 93% (458 mil) são mulheres e 62% (304 mil) são negras ou pardas, o que comprova uma forte herança escravagista, dificultando que o emprego doméstico seja visto e tratado como "profissão".
Segundo Renato Mendes, da OIT (Organização Internacional do Trabalho), o perfil das empregadas muda pouco, mas o das patroas vem mudando bastante. Antes, eram ricas ou de classe média alta. Hoje, com a entrada maciça das mulheres no mercado de trabalho, são de classe média baixa, com educação precária e salário às vezes ridículo.
Em casas alheias, crianças e adolescentes são mais vulneráveis a acidentes e a exploração -até sexual. Poucas terão chances de estudar e de se qualificar para o mercado de trabalho. É por isso que as patroas, além das empregadas, devem ser educadas, conscientizadas.
Pesquisa do Ceafro (Centro de Estudos Afro-orientais) em Salvador, em 2002, revela que só 5% das meninas empregadas domésticas recebem ao menos um salário mínimo, 10% têm carteira assinada, 14% têm férias. Delas, 66% trabalham mais de 8 horas por dia e 37% não vão à escola.
Você de São Paulo, do Rio ou de Brasília pode achar que é "coisa da Bahia" ou "coisa do Nordeste". Ledo engano. Isso é Brasil.


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