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ELIANE CANTANHÊDE
Não é brincadeira
BRASÍLIA - Hoje é o Dia do Trabalho
Doméstico, o que desperta emoções e
preocupações em quem dependeu de
empregadas na infância e continua
dependendo depois de adulto e profissional. Com elas passou seus dias.
Com elas deixa seus filhos.
Juízes, jornalistas, servidores, metalúrgicos, professores têm alto grau de
mobilização e reivindicação. Ameaçam e fazem greves e até interferem
em reformas constitucionais, lutando
por direitos e/ou privilégios. E as nossas empregadas?
Pelo IBGE, há 5 milhões de empregados domésticos no Brasil, sendo
494 mil (meio milhão!) de 5 a 17 anos.
Cuidam de outras crianças, limpam,
lavam, passam, cozinham. Às vezes
sem horário, sem descanso semanal,
até sem salário.
Desse meio milhão, 93% (458 mil)
são mulheres e 62% (304 mil) são negras ou pardas, o que comprova uma
forte herança escravagista, dificultando que o emprego doméstico seja
visto e tratado como "profissão".
Segundo Renato Mendes, da OIT
(Organização Internacional do Trabalho), o perfil das empregadas muda pouco, mas o das patroas vem
mudando bastante. Antes, eram ricas
ou de classe média alta. Hoje, com a
entrada maciça das mulheres no
mercado de trabalho, são de classe
média baixa, com educação precária
e salário às vezes ridículo.
Em casas alheias, crianças e adolescentes são mais vulneráveis a acidentes e a exploração -até sexual. Poucas terão chances de estudar e de se
qualificar para o mercado de trabalho. É por isso que as patroas, além
das empregadas, devem ser educadas, conscientizadas.
Pesquisa do Ceafro (Centro de Estudos Afro-orientais) em Salvador,
em 2002, revela que só 5% das meninas empregadas domésticas recebem
ao menos um salário mínimo, 10%
têm carteira assinada, 14% têm férias. Delas, 66% trabalham mais de 8
horas por dia e 37% não vão à escola.
Você de São Paulo, do Rio ou de
Brasília pode achar que é "coisa da
Bahia" ou "coisa do Nordeste". Ledo
engano. Isso é Brasil.
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